26/07/2019 às 11h00min - Atualizada em 26/07/2019 às 15h02min

Homem Aranha: Longe de Casa brilha ao trazer uma versão imatura e divertida do herói

Filme encerra a fase três da Marvel Studios

- Fotos: Reprodução / internet
Da Redação: Rafael Barbosa

Homem Aranha: Longe de Casa chega como o filme que encerra a fase três da Marvel. Mas ao contrário dos outros encerramentos que acompanhamos nos ciclos passados do estúdio americano, aqui vemos uma aventura leve e quase descompromissada, que apesar de não renegar os acontecimentos dos filmes anteriores, deixa os grandes eventos de lado para dar um merecido descanso aos fãs e ao seu protagonista após a maravilhosa, porém cansativa, megalomania que vimos em Vingadores: Ultimato.

Após participar da derrota de Thanos, Peter Parker (Tom Holland) sai de férias com sua classe para uma viagem pela Europa. O jovem aranha ainda tenta lidar com a perda de Tony Stark, mas planeja usar seu passeio escolar não apenas para deixar de lado as responsabilidades que os outros tentam lhe impor (será ele o novo Homem de Ferro?), enquanto tenta se aproximar da jovem e impetuosa MJ (Zendaya). Uma pena que os planos do jovem são frustrados quando um grupo de criaturas começa a atacar as cidades europeias, obrigando o herói a trabalhar com a Shield de Nick Fury (Samuel El Jackson) e com um novo herói que faz jus ao seu nome: Mistério (Jake Gyllenhaal).

 

A primeira coisa que chama a atenção na nova aventura do aranha é a inversão de valores que o roteiro do filme apresenta sobre o seu herói adolescente. Se em Homem Aranha: De Volta ao Lar víamos um jovem que lutava para se provar merecedor de responsabilidades maiores, após sentir na pele um pouco dos perigos, dilemas e consequências enfrentados pelos heróis que admira e por ele mesmo, agora vemos um Peter que rejeita a ideia de ser um grande herói. Se antes o jovem queria missões mais importantes e ingressar nos Vingadores, após a luta contra Thanos o adolescente apenas quer continuar sendo o amigão da vizinhança, renegando as responsabilidades que os outros tentam lhe atribuir, mesmo que sejam as mesmas atribuições que ele antes tanto queria.

Mas é justamente esta a característica que mais me cativa no herói: o fato de que, apesar de ser um jovem brilhante e talentoso, o Peter Parker de Longe de Casa ainda é, primordialmente, um adolescente imaturo e ingênuo.

No meio de tantos heróis poderosos e complexos que habitam o mundo cinematográfico da Marvel, é muito divertido acompanhar um jovem que só quer ajudar as pessoas de seu bairro e sair com a garota de quem gosta. Porém o roteiro consegue usar este desejo de uma vida simples de Peter para dar profundidade ao personagem, que está constantemente lutando contra as expectativas que lhe são impostas, enquanto tenta descobrir seu próprio caminho, problemas que todos já passamos na vida durante nossa adolescência.

E talvez seja exatamente por esta constante dualidade do seu protagonista que o longa continua trazendo o heroísmo como seu tema central. No primeiro filme o Peter tinha dúvidas se ele tinha o que é preciso para portar este título, enquanto nesta continuação ele se pergunta se ele está disposto a fazer os sacrifícios que seu altar ego exige.

Uma complexidade que continua sendo conduzida maravilhosamente bem por Tom Holland. Mais à vontade no papel após quatro filmes, o ator continua a transmitir a doçura e ingenuidade que marcaram a sua interpretação do herói, enquanto consegue segurar muito bem as mudanças mais dramáticas que esta nova aventura exige, se saindo bem especificamente em um momento dramático onde o aranha tem que lidar com o próprio fracasso e a preocupação de que talvez nunca esteja à altura de seu mentor. Personagem este que está presente no filme de forma indireta, porém intensa.

A maior baixa dos Vingadores (e do próprio universo cinematográfico da Marvel), a figura de Tony Stark está presente durante todo o filme, o que nos ajuda a dimensionar o nível de importância que aquele herói tinha para aquele mundo e, consequentemente, os prejuízos devastadores de sua perda, enquanto o usa também para dar o direcionamento que a história precisa.

Assim, a narrativa do longa consegue dar um pouco mais substância ao universo Marvel, nos mostrando o leve clima de caos que ainda permanece após o combate contra Thanos, enquanto nos faz mergulhar em uma aventura com um tom leve e muito parecido com Homem Aranha: De Volta ao Lar.

O ambiente escolar continua presente, mas agora em um tom de férias escolares, assumindo um estilo quase despretensioso e que é ajudado pelo carisma dos companheiros Peter durante sua viagem e que, apesar de terem participações pontuais e rápidas, são apresentados como figuras interessantes e de personalidades próprias.

Mas o tom leve do filme não se reflete apenas no seu ambiente escolar, mas também na escala dos desafios enfrentados pelo aranha. Depois da grandiosidade presente em Vingadores: Ultimato, a Marvel Studios pisa no freio e oferece uma aventura menos ambiciosa e de acordo com as limitações de um personagem que, apesar de poderoso, ainda está em formação. Se Ultimato era uma corrida de Fórmula 1, cheio de adrenalina e ação, Longe de Casa é uma gostosa viagem pelo parque, embora ainda ofereça perigos autênticos e consequências interessantes para a vida do amigão da vizinhança.

Com cenas de ação grandiosas e empolgantes, o filme usa de forma criativa a tecnologia para dar uma explicação para os poderes do vilão do filme, que consegue não apenas oferecer um desafio interessante ao herói, obrigando-o a usar todas as suas habilidades para enfrentar seu adversário, além de também conseguir fazer com que ele amadureça.

Se você ainda não viu o filme, aconselho a pular este parágrafo, pois ele traz um pequeno spoiler. A Marvel tem se mostrado extremamente competente na escolha dos vilões da série Homem Aranha e se o Abutre de Michael Keaton tinha se mostrado alguém carismático e perigoso no longa passado, o Mistério de Jake Gyllenhaal é uma das melhores coisas do filme. É interessante como o ator consegue usar sua versatilidade, tão empregada a filmes densos e sérios, para compor um personagem que num momento parece alguém confiável e carismático, para então se transformar em um vilão extravagante e egocêntrico que obriga Peter não apenas a enfrentar as consequências de sua ingenuidade, mas também o incentiva a descobrir novos poderes.

Homem Aranha: Longe de Casa é um filme competente e que apresenta um prosseguimento de amadurecimento tão grande quanto o de seu protagonista. Ainda não se sabe se o aracnídeo continuará sob tutela da Marvel, porém pelo que vimos até aqui, perder o amigão da vizinhança neste momento seria uma grande tragédia para os fãs. Sobretudo após a primeira cena pós-crédito do filme, que claramente apresenta impactos expressivos e que prometem ser interessantíssimos de ser acompanhados na vida do amigão da vizinhança.

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