06/10/2015 às 19h10min - Atualizada em 06/10/2015 às 19h10min

Problemas intestinais em crianças: quando procurar um especialista?

Fatores emocionais, além de alimentação e hidratação inadequadas podem influenciar na saúde intestinal da criança

Da redação Foto: reprodução internet
Da redação Foto: reprodução internet

É bem possível que ao longo da vida, uma criança já tenha apresentado sintomas como diarreia, prisão de ventre e dores na barriga ou estômago. Muitas vezes, esses sintomas estão relacionados à alimentação e traduzem a resposta do organismo para indicar que algum alimento não foi bem aceito. Em alguns casos, como em episódios agudos de constipação intestinal, ou prisão de ventre, como é conhecido popularmente, o problema também pode estar relacionado às alterações emocionais.

“Se a criança estiver em fase de desfralde, pode ser que ela venha a sentir dificuldade para evacuar e, por isso, evite ir ao banheiro. Também há casos em que ela fica com o intestino solto por conta de alguma fase nova que esteja ocorrendo na vida dela”, explica a gastroenterologista pediátrica, Dra. Soraia Tahan, do Centro de Especialidades Pediátricas do Hospital Samaritano de São Paulo.

E completa. “É uma reação emocional do próprio corpo ao lidar com mudanças. Isso ocorre porque o sistema nervoso do intestino, chamado de Sistema Nervoso Entérico, e o Sistema Nervoso Central se comunicam. Dessa forma, as emoções e sentimentos podem causar manifestações clínicas no trato gastrointestinal”.

Não há motivos para se preocupar no caso desses sintomas serem passageiros e sem repercussões no estado geral da criança, geralmente com duração de poucos dias. Basta realizar uma dieta adequada para cada situação e acompanhar a evolução do quadro para evitar complicações.

Nos casos de intestino preso, a recomendação é oferecer uma dieta balanceada de acordo com a idade, porém aumentando a quantidade de fibras e líquidos, essenciais para o amolecimento das fezes e movimentação do intestino.  As fibras estão contidas em alimentos como feijão e outras leguminosas, tubérculos, legumes, verduras e frutas.  “A criança que come desde cedo frutas, verduras e legumes variados, recebe maiores quantidade de fibras, bem como vitaminas e ferro, adquirindo hábito alimentar saudável que promove o bom funcionamento do intestino”, destaca a especialista. Em crianças maiores, a ingestão de frutas com casca e cereais integrais também pode contribuir. Dra. Soraia acrescenta que “uma dieta rica em fibra só ajuda o intestino a funcionar se for associada ao aumento do consumo de líquidos, em média de 30%”.

Entretanto, algumas crianças apresentam persistência do quadro de constipação intestinal, evoluindo para o quadro crônico. Em estudo realizado pelo John´s Hopkins Children´s Center, nos Estados Unidos, foi revelado que houve um aumento de 30% no número de casos de crianças norteamericanas com crises graves e crônicas de constipação. Entre os motivos, estão a alimentação e hidratação inadequadas.

As crianças também podem apresentar intestino solto por mudanças na dieta e questões emocionais, porém nessa situação não há presença de febre e vômitos que indicam infecções intestinais.  No caso de crianças que estejam apresentando problemas com o intestino solto, a orientação médica é manter a dieta habitual e acrescentar a ingestão de líquidos. “Só é importante evitar o consumo de sucos industrializados, pois a substância sorbitol, encontrada nesse produto, pode piorar a diarreia”, destaca a especialista.

A prevenção de problemas intestinais como diarréia e intestino preso inclui hábitos alimentares saudáveis. Estes hábitos devem ser iniciados desde o nascimento com o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida e manutenção do consumo de leite até dois anos ou mais. O leite materno contém substâncias chamadas de prebióticas (gactoologossacarídeos) que auxiliam na formação de uma microbiota (flora) intestinal saudável com conseqüente eliminação de fezes macias e prevenção da constipação. O leite materno também possui elementos como a imunoglobulina A, que é um anticorpo que auxilia na prevenção da diarréia infecciosa. Depois dos seis meses, além do aleitamento materno, a dieta do bebê deve ser composta de grãos (cereais de feijões), carnes, legumes, frutas e verduras.

Nos casos de bebês impossibilitados de receberem o leite materno e que apresentem intestino preso, o médico poderá indicar fórmulas lácteas que contêm em sua composição substâncias prebióticas que auxiliam na prevenção da constipação.

Em qualquer fase da vida da criança, devem ser evitados alimentos que não são nutritivos como enlatados, frituras, balas, doces, refrigerantes e salgadinhos, pois podem comprometer o estado nutricional e o bom funcionamento do trato gastrointestinal.

Quando ficar de olho

Caso os sintomas de intestino solto ou preso e dor na barriga se tornem persistentes e recorrentes na vida da criança, é hora de buscar ajuda médica especializada para entender o que está ocorrendo. A Dra. Soraia explica que os sintomas persistentes de dor abdominal, constipação e diarreia podem decorrer por conta de desordens gastrointestinais funcionais ou de doenças orgânicas e somente a avaliação médica poderá discriminar a causa desses sintomas.

As desordens gastrointestinais crônicas funcionais são comuns na infância e consideradas funcionais porque nessa situação não há qualquer alteração orgânica que justifique os sintomas, sem repercussões no estado geral e nutricional. “Em contrapartida, nas doenças gastrointestinais orgânicas, as manifestações clínicas são mais exuberantes e, geralmente, ocasionam repercussão no estado geral e nutricional”, acrescenta a especialista.

A Doença Inflamatória Intestinal – DII -, é um exemplo de doença orgânica que se manifesta com sintomas gastrointestinais. Conhecida como Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa, as manifestações clínicas desse problema incluem dores abdominais intensas, diarreia com sangue e muco, além de perda de peso. “Trata-se de um problema crônico, mas que tem tratamento. Quanto antes o problema for diagnosticado, melhor será a qualidade de vida do paciente”, explica a médica.

 

E finaliza com a indicação: “Ao sinal de alterações no funcionamento do intestino que impactam a qualidade de vida da criança, procure auxílio de um especialista para tratar o problema de forma adequada”.


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