08/12/2023 às 19h12min - Atualizada em 08/12/2023 às 19h12min

Família de jovem que morreu após buscar atendimento na Santa Casa realiza manifesto

Parentes e amigos de Matheus Leocádio desejam que a Prefeitura, bem como a OS que a administra o hospital, sejam responsabilizadas pelo falecimento do jovem

Da Redação: Ana Laura Gonzalez
Fotos: Carlos Mello
A família e amigos do jovem Matheus Leocádio, de 22 anos – que morreu no dia 18 de novembro, após pouco mais de três dias internado na Santa Casa de São Roque e uma semana de idas e vindas do hospital – realizaram um manifesto pacífico na região central da cidade, nesta sexta-feira (08), em que é celebrado o Dia da Justiça, para cobrar providências sobre o caso do jovem, que não recebeu qualquer diagnóstico para a sua enfermidade na Santa Casa.

A causa do falecimento de Matheus foi leptospirose, doença causada pela urina do rato que, quando tratada a tempo, pode ser curada.

O Jornal da Economia esteve no local e conversou com os participantes da manifestação, inclusive com a mãe do jovem, Luciana Leocádio. "Muito difícil, mas a gente está fazendo por amor a ele e a gente precisa de justiça. Espero que a população de São Roque acorde e veja como está a situação da saúde aqui na cidade, que não está uma maravilha, infelizmente. Eu perdi o meu filho por negligência médica e eu preciso que as pessoas me ouçam”, afirmou ela.

Na semana seguinte ao falecimento de Matheus, a Prefeitura Municipal informou à imprensa que abriu um procedimento administrativo para apurar o atendimento da Santa Casa. O Centro de Estudos e Pesquisas "Dr. João Amorim" (CEJAM), organização social que administra o hospital, também abriu um procedimento técnico administrativo visando apurar o caso.

O advogado da família, Damil Carlos Roldan, falou sobre o manifesto e deu detalhes sobre a ação que move na Justiça contra a administração da cidade e a administração do hospital.

“Todos estão aqui fazendo uma manifestação pacífica e nós distribuímos uma ação cível para responsabilizar a administração municipal ou a própria administração do hospital, mas nós estamos também aguardando que o município sequer faça uma defesa, porque qualquer defesa que o município faça será contra uma mãe. Numa cidade de gente feliz não é possível que Matheus tenha por quatro dias definhado sem atendimento, então nós adotamos além dessas medidas, as de acionar no devido momento a Câmara Municipal para que promova um processo de investigação assim como os conselhos regionais de Medicina e de Enfermagem, além do Tribunal de Contas para que apure as transferências de valores para essa entidade e se elas estão sendo devidamente empregadas", disse Roldan.

Ainda segundo ele, a Prefeitura de São Roque teria entrado em contato com a família do jovem para evitar que o caso se tornasse público. “A ideia da mãe não é tornar isso público por nenhum outro objetivo que não seja justiça e evitar que outras mães tenham que enterrar seus filhos levados a óbito pela incompetência, pelo não atendimento e pela incapacidade de observar que o ser humano tem que ser atendido de forma correta nos hospitais, sejam eles privados ou públicos", finalizou o advogado.

De acordo com a família – que alegou descaso do hospital na averiguação dos sintomas de Matheus Leocádio –, no dia 10 de novembro ele começou a sentir fortes dores na lombar e nas pernas, além de apresentar febre e ter vômitos. No mesmo dia, o jovem foi até a Santa Casa, fez exames de sangue e tomou duas injeções, mas continuou sem diagnóstico, então foi liberado a voltar para casa.

No dia seguinte (11), após o efeito da medicação passar, ele voltou a ter dores e novamente esteve na Santa Casa. Matheus foi atendido, não fez exames, tomou remédio para dor e foi liberado para ir embora. O jovem chegou a dizer para familiares que uma equipe do hospital falou que poderia ser garganta inflamada ou até mesmo uma crise de ansiedade.

No dia 12, ao passar o efeito do medicamento, as dores voltaram e, mais uma vez, ele seguiu até a Santa Casa, mas as dores estavam mais fortes e Matheus ficou pálido, ictérico e já com outros sintomas de dores.

Durante o atendimento, segundo a família, o jovem fez teste de covid e exame de urina e o resultado foi negativo para ambos. Matheus então recebeu antibiótico e mais uma vez foi liberado.

Já no dia 13 de novembro, ainda com muitas dores, retornou à Santa Casa, fez testes de hepatite B e repetiu os exames de sangue, tomou medicamento e foi liberado.

Três horas depois, ainda com dores fortes no estômago, retornou ao hospital e os exames, de acordo com os parentes, estavam alterados, mas descartaram a possibilidade de ser hepatite B.

Durante a consulta, segundo a família, o médico desconfiou que o caso do jovem seria uma metástase por conta do câncer no testículo que ele já teve, então fez uma carta e o liberou, pedindo para procurar o hospital para fazer exames.

Ainda no dia 13, já por volta das 21h00, ele voltou a ter muitas dores e novamente foi à Santa Casa.

De acordo com os familiares, era de madrugada, já terça-feira (14), e ele ainda estava na unidade e não havia um diagnóstico, quando uma médica que estava de plantão em uma maternidade fora do município, recebeu os exames do jovem por meio de uma mensagem da mãe de Matheus.

A médica detectou rapidamente que ele poderia estar com dengue hemorrágica ou leptospirose, solicitando internação imediata.

O caso do jovem só piorava e, ao amanhecer de terça-feira, ele vomitou sangue e foi para a UTI. Foram iniciados os medicamentos, Matheus iniciou uma hemodiálise e foi entubado, mas não resistiu e faleceu no hospital no sábado (18), após três dias de internação.

Na ocasião, a reportagem do JE cobrou um posicionamento do CEJAM, organização social que administra o hospital e, em resposta, o Centro de Estudos e Pesquisas "Dr. João Amorim" emitiu uma nota. Veja na íntegra a seguir.

“A Santa Casa de São Roque esclarece que o paciente Matheus Gabriel Leocádio, 22, teve atendimento prestado no pronto-socorro da unidade entre os dias 10 e 12 de novembro, onde passou por avaliação médica e diagnóstica, ocasião que apresentou sintomas e resultados laboratoriais inespecíficos, sendo liberado para casa.

Na manhã do dia 13 de novembro, em novo retorno do paciente ao PS, os exames foram repetidos e ampliados. Na noite do mesmo dia, Matheus retornou ao pronto-socorro com o quadro clínico agravado, quando foi internado e encaminhado à Unidade de Terapia Intensiva.

Durante o período de internação, o paciente contou com o respaldo de uma equipe multidisciplinar, até o seu falecimento, no último dia 18 de novembro.

A Santa Casa de São Roque lamenta a morte de Matheus e instaurou processo técnico administrativo visando apurar os fatos envolvidos no atendimento, no sentido de esclarecer os motivos de seu falecimento. A instituição, no seu compromisso com a verdade e qualidade assistencial, permanece à disposição para quaisquer esclarecimentos.”

No dia 21 de novembro, o jornalista Carlos Mello entrevistou Luciana Leocádio, mãe do jovem Matheus, que relatou o drama vivido pela família após tantos dias de luta do filho, na busca de um diagnóstico e tratamento pela Santa Casa. “Foi muito descaso com o meu filho, isso não pode ficar impune. Eu preciso que as pessoas escutem uma mãe que está sofrendo muito. Não desejo para ninguém a humilhação que ele passou, então eu espero que todos, até mesmo o prefeito, ouçam a minha voz”, afirmou ela, que registrou um boletim de ocorrência contra a equipe de profissionais que atendeu o jovem.



 

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