04/12/2023 às 11h36min - Atualizada em 04/12/2023 às 11h36min
O RENASCIMENTO DA ENERGIA NUCLEAR
Nos últimos dois anos, a energia nuclear vivenciou uma reviravolta dramática nos países desenvolvidos.
O artigo "Nuclear Resurgence - The energy security case for nuclear power is building" assinado por TED NORDHAUS is fundador e director executivo e JUZEL LLOYD analista de clima e energia do Breakthrough Institute. A publicação destaca uma mudança significativa no cenário da energia nuclear nos países desenvolvidos. A crise energética resultante da invasão russa à Ucrânia fez com que usinas nucleares na Europa, programadas para fechamento, recebessem uma prorrogação de última hora. Países como Japão, França e Reino Unido estão revendo suas políticas em relação à energia nuclear, anunciando planos para reiniciar reatores, construir novos e investir em reatores modulares pequenos. De acordo com Nordhaus, o retorno à energia nuclear trouxe uma esperança em meio a um cenário geopolítico sombrio.
Apesar dos avanços em energias renováveis, a crise energética evidenciou a dependência contínua do mundo dos combustíveis fósseis. A Europa, mesmo sendo uma região que investiu trilhões na transição para energias eólica e solar, enfrenta uma corrida para substituir o petróleo e gás russos por fontes alternativas, como gás natural liquefeito dos Estados Unidos e carvão. Nos países em desenvolvimento, os preços crescentes de energia resultaram em escassez, blecautes e protestos, empurrando milhões de pessoas de volta à extrema pobreza.
O autor argumenta que, embora as energias renováveis tenham progredido, elas não são suficientes para eliminar a dependência dos combustíveis fósseis. A capacidade limitada de geração de eletricidade a partir de fontes eólicas e solares, especialmente em países em desenvolvimento, destaca a necessidade de uma solução complementar. O mundo ainda é excessivamente dependente de combustíveis fósseis. Cerca de 80% do consumo de energia global e das emissões ainda provêm dessas fontes. Energias eólica e solar, embora em ascensão, representam apenas cerca de 20% da matriz energética global. Mesmo em países desenvolvidos, a combinação de vento e solar geralmente não fornece mais de um terço da eletricidade. A energia nuclear é apresentada como uma alternativa viável, fornecendo uma fonte estável de eletricidade que pode se integrar às fontes variáveis de energia renovável, como ocorre na Escandinávia.
No entanto, a tecnologia nuclear precisa evoluir, especialmente para atender às necessidades de países sem a expertise técnica e institucional para operar reatores convencionais. Novas tecnologias de reatores avançados, como reatores de alta temperatura e reatores menores e mais simples, estão sendo desenvolvidas para substituir usinas movidas a carvão. O artigo destaca iniciativas em países como China e Estados Unidos para construir reatores avançados que possam fornecer calor e energia para aplicações industriais, como produção de hidrogênio e fabricação de fertilizantes.
Nordhaus enfatiza que a inovação é crucial para que a energia nuclear desempenhe um papel significativo, especialmente em economias em desenvolvimento. Além disso, destaca a necessidade de novos modelos de negócios, regulamentações mais flexíveis e uma revisão do quadro global de não proliferação nuclear para aproveitar totalmente o potencial dessas novas tecnologias.
Há uma hipocrisia na financiamento climático, onde países ricos monopolizam recursos fósseis enquanto pressionam as nações mais pobres a abandonarem o desenvolvimento de combustíveis fósseis. A exclusão da energia nuclear e hidrelétrica limita o desenvolvimento de países mais pobres às energias renováveis, que, embora crescentes, ainda são insuficientes para atender às necessidades básicas de infraestrutura.
A pergunta recorrente é: "O que fazer com os resíduos nucleares?" Essa é uma questão que já foi abordada de diversas maneiras, incluindo o soterramento e a criação de câmaras de concreto extremamente seguras. Um estudo mencionado no novo documentário "Nuclear Now" de Oliver Stone revela que todo o lixo nuclear gerado até hoje por todas as usinas nucleares do planeta caberia em uma loja de médio porte do Walmart. Em outras palavras, o impacto ambiental seria milhares de vezes menor do que as milhões de toneladas de CO2 geradas atualmente pelas usinas a carvão.
O artigo conclui ressaltando que, apesar de não ser uma solução única, a energia nuclear pode ser uma peça importante na transição para uma matriz energética mais limpa e na busca por segurança energética global. Ele argumenta que é hora de reconsiderar o valor da energia nuclear não apenas no contexto das questões climáticas, mas também como uma contribuição fundamental para os desafios globais de desenvolvimento. Em última análise, o papel da energia nuclear na transição global para uma matriz energética mais limpa e na resolução dos desafios climáticos e de desenvolvimento é crucial. À medida que o mundo reconsidera o valor da energia nuclear, é imperativo avaliar seu potencial não apenas no contexto climático, mas também como parte essencial da resposta aos desafios globais de desenvolvimento.
AUTORES
Cássio Eduardo Giroldo
Químico Industrial, MBA em Engenharia de Produção, Lean Six Sigma Master Black Belt. Atua como Gerente de Operações na indústria de selantes e adesivos, Bestseal. Com 20 anos de atuação, tem sólida experiência em segmentos da indústria química, alimentícia e farmoquímica em empresas multinacionais como Cargill, Nissin Foods, Roquette, atuando nas áreas de Qualidade e Melhoria Contínua. Hoje faz um amplo trabalho nas áreas de desenvolvimento e certificações de processos e atua em conjunto com grupos de trabalho em associações e institutos de normas técnicas.
Eric Sola da Silva
Engenheiro Industrial, MBA e Lean Six Sigma Black Beltpela Pennsylvania State University Atua como Engenheiro Sênior de Vendas na Lenovo, EUA. Com 25 anos de experiência em diversas indústrias e tendo trabalhado para empresas multinacionais como Flextronics e DSV Panalpina, ele possui ampla experiência na implementação de projetos e modelos de melhoria contínua, como Manufatura Enxuta (Lean Manufacturing), Six Sigma e o Modelo Shingo. Atualmente, ele trabalha na divisão de Cloud Computing da Lenovo, na Carolina do Norte, EUA, implementando e aprimorando processos de vendas e Supply Chain.