07/11/2023 às 14h26min - Atualizada em 07/11/2023 às 14h26min

Adoção sob Perspectiva dos Pais

A possível desconstrução da idealização da maternidade

Fotos: Divulgação
Por Psicóloga Elisangela Niná

Quando a gente fala em adoção pensamos em uma perspectiva bem complexa - do começo ao final - e estou falando aqui do ponto de vista da pessoa que deseja adotar, pois desde a decisão até a finalização do processo, estes pais vão enfrentar momentos muito críticos.

A priori vamos pensar na construção desta escolha dos futuros pais, pensando que a maioria não planejou a adoção para formar sua família; e a adoção acabou sendo um recurso acionado pelo insucesso de uma gestação tradicional.

Partindo deste caminho passamos pelo primeiro ponto crítico. Estes pais vão ter de desconstruir a “idealização da maternidade”, que foi a construção até ali. E terão de partir para um ponto impensado até então.

Esta construção não se dará nos corredores de uma Maternidade, mas no Fórum. E os pretendentes - sendo casal homoafetivo, héteroafetivo ou pessoas solteiras - vão passar por muitas etapas até conseguirem adotar uma criança.

O processo inclui etapas como a Análise de Perfil, onde será avaliada aspectos como estabilidade emocional, capacidade de educar e cuidar de um bebê, criança ou adolescente; também será investigado o histórico de relacionamento dessa pessoa. Parece invasivo!

Estas etapas não são muito agradáveis, é verdade, mas fazem parte de um protocolo de proteção à criança e aos adolescentes (na chamada adoção “tardia”). O profissional que está ali vai tentar investigar quais são as motivações desta pessoa que está querendo adotar e se este ambiente em que ela vive é seguro e acolhedor.

Todos estes aspectos dos pretendentes serão investigados e, sim, eles geram uma grande tensão. Pense: a pessoa está ali na ousadia de buscar uma via nova para realizar um sonho e essa via não é certa. Ela pode ser negada!

A negativa da Análise do Perfil é mais comum do que se pensa. A pessoa que pretende adotar simplesmente leva um “não”. Claro, ela pode se recompor e recorrer.  E pode funcionar em outro momento.

Entretanto, do ponto de vista psicológico a negativa gera uma frustração tremenda. A sensação pode ser descrita como “mais um aborto no processo”.

Mas, mesmo depois de aprovados, estes futuros pais têm níveis de ansiedade grandes, pois terão estes profissionais (psicólogos, assistentes sociais) o tempo todo os questionando e testando - para dar o “selo” de realizar o sonho ou não.

A chamada Análise de Perfil é só uma das questões burocráticas. Mas, fora isso, as possíveis rejeições, que podem ocorrer, a mudança nas relações familiares etc.

Qual a melhor forma de lidar com adoção? A melhor forma é sempre com informação. O enfrentamento deste processo ficará bem mais leve se você buscar um grupo de apoio, ajuda terapêutica e convivência com pais que já passaram por isso.

A ideia é que o pretendente vá se familiarizando com este repertório tão atípico para que o sistema vá acomodando e não fique tão alarmado com esta ansiedade, que vai bater, reduzindo-a no menor grau possível.

Quando a gente conhece o território, a gente se prepara melhor. Estamos falando de uma mãe, um pai e um filho que vai testar o amor no limite. Tudo é novo e parece assustador.

O pós-adoção também requer cuidados e acolhimento.  Hoje em dia se fala em “doula de adoção”, “puerpério de adoção”. Há muitos grupos na Internet, que podem ajudar na adaptação, exemplo de artistas famosos que adotaram e até páginas que tratam com humor de todas as questões que envolvem a adoção.

Por fim, uma armadilha bem perigosa que observo é que nosso sistema possa reproduzir crenças que temos sobre adoção; então, pensamentos como: “está vendo? esta criança é adotada, vai dar trabalho!” podem surgir em um momento de crise.

Mas, com apoio, conseguimos refutar estes pensamentos intrusivos e mentirosos, que podem dominar e um momento de fragilidade.

Busque ajuda e realize seus sonhos.

Sobre a Psicóloga Elisangela Niná (CRP 120921/06) Atendimento on-line. Palestrante corporativa.



@psielisangelanina

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