17/11/2022 às 11h36min - Atualizada em 17/11/2022 às 11h36min

A Flutterwave em crise: por que o Banco Central do Quênia congelou a gigante fintech

Foto de Austin Distel - Unsplash

Como um dos maiores provedores de pagamento Fintech da África, a Flutterwave tem sido um exemplo de história de sucesso desde a sua formação há cinco anos.

A startup nigeriana arrecadou nada menos que 170 milhões de dólares em uma rodada de investimentos no ano passado, a maior já realizada por uma empresa africana, e atingiu uma valorização de US$ 1 bilhão, ganhando o status de Unicorn. Em fevereiro passado, ela triplicou sua valorização.

No entanto, sua curta trajetória também foi marcada por escândalos, nos quais o governo queniano se envolveu agora.

 

O que é a Flutterwave?

A Flutterwave faz parte da onda de bancos fintech que tem varrido a África nos últimos anos. Com base em pagamentos on-line que facilitam tudo, desde a compra de produtos on-line ou de um bilhete de loteria digital, ela se tornou uma ferramenta fundamental no dia-a-dia de muitos africanos.

Trata-se da startup africana mais valorizada da história, que facilita as transações de pagamentos transfronteiras para pessoas físicas e jurídicas africanas através de uma interface fácil de usar. Operando em mais de 30 moedas, já fez mais de meio milhão de pagamentos desde sua formação em 2016.

Apesar de seu sucesso, ela também teve sua quota de escândalos. Vários ex-colaboradores alegaram que a empresa usou práticas de bullying contra eles, enquanto pelo menos uma funcionária relatou ter sofrido assédio sexual de seu chefe.

As acusações provocaram uma resposta de Olugbenga Agboola, CEO da empresa, na primavera de 2022. Em sua declaração, ele negou veementemente qualquer ato ilícito dentro da empresa, mas isso não impediu os acusadores de prosseguir com processos judiciais contra a Flutterwave.

A recente ação do governo queniano, no entanto, vem após uma série de acusações relativas à sua conduta financeira. Em abril, Agboola e os executivos seniores foram acusados de abuso de informação privilegiada. A alegação é que tinham vendido ações a um preço mais baixo antes de levantar fundos de risco para aumentar o preço de volta.

Acusações adicionais de má conduta financeira levaram a severas sanções por parte das autoridades dentro dos mercados em que a Flutterwave opera, ameaçando sua integridade como empresa.

 

Por que as contas da Flutterwave foram congeladas pelo governo queniano?

 

O Tribunal Superior no Quênia congelou mais de 6,2 bilhões de xelins quenianos (R$ 270 milhões) pertencentes à Flutterwave e outras contas quenianas, a pedido da Agência de Recuperação de Ativos (Assets Recovery Agency - ARA).

De acordo com investigações, a ARA estabeleceu que 29 contas bancárias no Guaranty Trust Bank, 17 no Equity Bank e 6 no Ecobank eram suspeitas, e o dinheiro nelas poderia ser proveniente de lavagem de dinheiro. Os bilhões de xelins foram depositados em diferentes contas bancárias para ocultar a natureza, a fonte e as movimentações dos fundos.

A empresa alegou que o dinheiro havia pagado pela prestação de serviços mercantis. As autoridades, porém, não encontraram nenhuma evidência de transações de varejo dos clientes.

Além disso, a ARA descobriu que a Flutterwave fornecia uma plataforma de serviços de pagamento a clientes sem autorização do Banco Central do Quênia, o que constitui uma grave violação das regras financeiras do país.

Esse congelamento é parte de uma investigação mais profunda que possui várias outras empresas quenianas como alvo. Após sua decisão, o juiz do tribunal disse que estava "convencido, acima de qualquer dúvida" de que existem motivos para acreditar que os fundos depositados nas contas quenianas eram provenientes de fontes ilícitas.

 

O que a Flutterwave fará agora?

A Flutterwave respondeu enfaticamente à decisão. Ela anunciou que está lançando sua própria investigação sobre o motivo das acusações feitas contra ela e até mesmo insinuou a existência de uma caça às bruxas por parte das autoridades quenianas.

Uma declaração da empresa afirmou seu compromisso com a "integridade do ecossistema" e de suas partes interessadas, e que além disso está se esforçando para "que a verdade venha à tona".

No entanto, apesar de sua forte defesa, não há dúvidas de que estes eventos são um enorme golpe, quiçá fatal, para o futuro da empresa.

Isso porque empresas financeiras se valem mais da confiança dos clientes do que qualquer outra coisa. Assim sendo, se a startup ficar com reputação de ter problemas financeiros, sejam as alegações verdadeiras ou não, é certo que isso afetará negativamente sua imagem não somente no Quênia, mas também em sua Nigéria natal e outros países.

A história mostra que empresas raramente se recuperam de acusações tão pesadas. Mesmo que a Flutterwave saia vitoriosa da ação judicial, é altamente improvável que ela se recupere de suas consequências. Pode ser que a startup, como a conhecemos hoje, se torne coisa do passado.

 

 


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