02/02/2021 às 11h58min - Atualizada em 02/02/2021 às 14h11min

Inquérito sobre caso de jovem trans encontrada morta em Alumínio é arquivado pela Justiça

Determinação ocorreu nesta segunda-feira (1º)

- Foto: Arquivo pessoal
Da Redação: Ana Laura Gonzalez

Foi arquivado pela Justiça nesta segunda-feira (1º), o inquérito sobre o caso da jovem transexual Rayssa Eloá Menezes, de 22 anos, que desapareceu no dia 25 de novembro do ano passado, após sair de casa para fazer uma entrevista de emprego e, uma semana depois, foi encontrada morta em uma área de mata localizada na região de Alumínio.

A morte da jovem gerou bastante comoção na época e estava sendo investigada pela Polícia Civil, que ao longo do tempo realizou exames periciais e ouviu testemunhas para apurar o que realmente teria ocorrido com Rayssa. No entanto, o juiz da 2ª Vara Criminal de Mairinque determinou o arquivamento do inquérito por entender que as provas existentes demonstram que a jovem morreu em virtude de um politraumatismo após cair de uma ponte com altura aproximada de 40 metros, levando a crer que o caso se trata de um suicídio.

“Assim sendo, os elementos coligidos no presente procedimento não são suficientes para embasar o devido processo legal, razão pela qual se promove o ARQUIVAMENTO do presente Inquérito Policial, sem prejuízo do estatuído no artigo 18 do Código de Processo Penal. No mais, nada que opor à soltura dos investigados”, diz um trecho do documento em que o Jornal da Economia teve acesso e que faz menção aos dois homens que estiveram com Rayssa no dia de sua morte e foram presos temporariamente durante o processo.

“Ontem saiu essa decisão liminar, concedendo a revogação da prisão temporária dos acusados. Ainda que a determinação tenha saído tardiamente, já tem uma decisão do Supremo relacionado a isso que revogou a prisão dos homens”, declarou o advogado Glauber Bez, que atuou no caso.

Depoimento

Em depoimento, um dos investigados disse que na madrugada do dia 25, encontrou a jovem em uma praça localizada em São Roque e que em determinado momento resolveu sair de carro para comprar bebidas alcoólicas com um amigo, chamando Rayssa para ir junto. Os três então pegaram as bebidas, foram comprar drogas em Itapevi e logo depois seguiram para Alumínio, em um trecho com um viaduto acompanhado de uma linha férrea.

Ele diz que durante o trajeto os três fizeram uso de cocaína, ingeriram bebidas e, quando chegaram ao destino, ainda no interior do veículo, mantiveram relações sexuais. Em seguida, a jovem começou a falar que estava com problemas na família, que “a vida dela era muito ruim” e, posteriormente, disse que queria tirar a própria vida. O homem afirma que ela seguiu andando na linha férrea em cima do viaduto e se pendurou, então ele e o amigo tentaram contê-la, puxando-a pelos braços.

Ainda segundo o investigado, Rayssa então voltou a reclamar e, em passos largos, disse que iria se matar, colocando o pé na parte metálica da ponte e se jogando. O rapaz fala que antes dela se atirar, tentou ir atrás dela, mas como a jovem estava há uns metros de distância dele, não conseguiu, afirmando que não houve homicídio, mas sim suicídio, e que não procurou a polícia ou a família da vítima porque teve receio do que poderia acontecer.

O caso

No dia da sua entrevista de emprego, Rayssa chegou a ligar para a família depois de passar pelo processo seletivo e disse que voltaria para casa em algumas horas, mas isso nunca ocorreu e a família registrou um boletim de ocorrência de desaparecimento.

As investigações começaram com a Polícia Civil de Alumínio que conseguiu coletar informações importantes sobre o rapaz que esteve com a jovem de 22 anos antes dela desaparecer. Os dados foram passados para a Polícia Civil de São Roque, já que Rayssa desapareceu no município e, assim, as autoridades locais iniciaram as buscas e encontraram o rapaz.

Na ocasião, o homem foi levado à Delegacia de São Roque e, a princípio, disse não saber de nada sobre o desaparecimento de Rayssa, porém acabou confessando que realmente esteve com a moça no dia em que ela desapareceu.

Após relatar o ocorrido aos policiais, o homem foi até o local acompanhado de agentes da Polícia Civil de São Roque e Alumínio, onde indicou o ponto exato da queda. Com as informações, as autoridades desceram até o córrego embaixo do viaduto e encontraram o corpo de Rayssa já em estado avançado de decomposição e seminu.

Empolgada com o 1º emprego

O processo seletivo do qual a jovem de 22 anos participou seria para o primeiro emprego com carteira assinada dela, de acordo com o primo, Guilherme Moises Bernardo Alves, que conversou com o G1 na época do ocorrido.

"Ela estava animada, muito empolgada mesmo. Lembro que ela passou em casa e eu mesmo a levei até a rodoviária. Estamos muito abalados", disse.

"Ela sempre teve uma vida muito sofrida, perdeu os pais quando criança e morou em abrigos também. Meus avós acabaram acolhendo ela. Ela tinha muita coragem e amor pela vida. Nunca vi uma pessoa com um coração tão grande mesmo depois de sofrer tanto", continuou Guilherme.


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