04/06/2020 às 10h58min - Atualizada em 04/06/2020 às 10h58min

Do dia em que aprender uma palavra já é muito importante

'A missão dos professores não cessa. Ensinar é paixão.'

- Foto: Arquivo pessoal/Cleone Cândida
Professora entrega tarefas na porta de casa para ajudar alunos com acesso limitado à internet, em Campos Verdes, Goiás —

Seguramente, todos foram retirados da zona de conforto. Essa pandemia veio para assustar, para matar; mas existe o outro lado: veio também para ensinar. O aprendizado é significativo, em metodologias ativas. E as escolas, os professores, as famílias, os alunos têm mergulhado em uma rede de conhecimento que, talvez, em outros tempos,  não envolvesse a todos dessa mesma forma. A humanidade passa por provas de que o ser humano é inteligente e encontra adaptação; não sem esforço.

As escolas têm se reinventado. A missão dos professores não cessa. Ensinar é paixão. O professor é movido pelo propósito de facilitar a transformação do aluno. Profissionais de todas as regiões do Brasil demonstram franco interesse em levar conhecimento, a exemplo, da professora Cleone Cândida de Araújo Medeiros, de 55 anos, que colocou uma mesinha na porta de casa para entregar as tarefas impressas e tirar dúvidas de alunos que têm acesso limitado à internet, em Campos Verdes, na região norte de Goiás. Equipada com máscara e álcool gel, coloca-se em risco, para plantar sementinhas que vão florescer. Outros professores investem em equipamentos, colocam internet pessoal a serviço, reinventam o modo de ser e – de forma sensacional – evoluem junto aos alunos. Essa relação professor e aluno jamais vai cessar. Ela é vital para que os estímulos da exploração, da investigação sejam emanados.

Há relatos incríveis de famílias que conseguem ver o bem do esforço das escolas. Uma mãe ficou muito entusiasmada, porque a professora utilizou a palavra “inusitada”, destacada de um texto. Na sequência, a criança foi exposta à tarefa sobre aquela abordagem. No exercício, havia a provocação para usar esse termo. O aluno perguntou o que era, pais procuraram no dicionário que o sinônimo era “extraordinário”, “fora do comum”. O pré-adolescente disse, então, que havia gostado da palavra “inusitado” e que usaria na resposta. Pronto! Está feito o milagre do aprendizado e da escolha. Em revistas como a EXAME, a VEJA, é muito comum a abordagem, na capa, sobre a importância da aquisição de vocabulário, para crescimento profissional. Um executivo precisa dominar – no mínimo – 50.000 palavras. Parabéns à família que incentiva. Outras – em condições para isso, é claro – até contratam mais aulas de idiomas, para complemento do aprendizado dos filhos, em tempos de pandemia.  O pré-adolescente está a caminho do sucesso. E isso se constrói dia a dia. A escola não pode, não deve parar. Se isso ocorresse, a tragédia seria muito maior, para o mundo todo, em especial para o Brasil que precisa formar pessoas. E isso leva tempo.

Alunos, de todas as idades, podem até demonstrar alguma resistência ao ensino/aprendizado. Mas isso não significa que é em relação ao momento remoto que se apresenta. Entretanto, é importante separar as questões do crescimento e das escolhas, das possíveis consequências, para que as famílias conduzam os filhos na necessidade de aprender. Observa-se que as famílias clamam por rotina. Sem o primeiro passo organizador que é o horário a cumprir, a sociedade fica um pouco perdida. Também nesse aspecto, as escolas estão de parabéns, pois enviam as rotinas, chamam as famílias, mantém relacionamento saudável com os alunos. Outro relato interessante foi de uma professora que decidiu utilizar um novo aplicativo para as aulas. Havia inúmeras versões dele, para tablet, celulares, computadores. Tarefa lançada, lá vai aluno se mover: pesquisar, baixar arquivo, ficar nervoso, conseguir imediatamente ou não. E assim, para muito além do conteúdo está presente nessa ação desequilibradora uma rede de aprendizados. É preciso acalmar-se, ler, entender, testar, perguntar para outros, até que se obtenha o sucesso desejado. Fácil?  Não! Para distante disso, DESAFIADOR. O grande escritor Guimarães Rosa escreve, em Grandes Sertões Veredas: “A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."

A coragem é quesito necessário para a vida humana, desde o nascimento. Portanto, viver, aprender, unir forças, criticar para crescimento do outro. A vida requer coragem, empatia, solidariedade, mesmo em tempos de total inquietação. Aprender é desafiador para sempre e é do ser humano enfrentar desafios e superá-los.

Texto de Irma Ugarelli Manfrenotti, apaixonada pela palavra, Prof. Em Língua Portuguesa, Coordenadora do Anglo São Roque, Consultora em Comunicação, por mais de dez anos,  para grandes empresas tais como: Serasa Experian, KPMG, MAPFRE Seguros, Tokio Marine Seguradora, FEBRABAN, Magazine Luiza, entre outras.


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