30/07/2019 às 17h15min - Atualizada em 31/07/2019 às 10h03min

O Rei Leão: o filme mais impressionante e sem alma da Disney

Filme se apega ao real e deixa de lado o carisma do material original

- Fotos: Reprodução / internet
Da Redação: Rafael Barbosa

A nova versão de O Rei Leão chegou aos cinemas e, como era de se esperar, deu muito sobre o que falar. A reimaginação do clássico Disney veio cheio de pompas as telonas do Brasil e do mundo envolta com uma aura de reverência que é difícil de se encontrar, mas muito fácil de entender, afinal estamos falando de O Rei Leão, a animação que é um dos grandes marcos do cinema e da própria história da Disney, tido por muitos como o melhor filme do estúdio. Desta forma é lógico que, quanto mais se chegava perto da estreia do filme, mais o público ficava empolgado ou interessado em ver como seria esta reimaginação de um longa-metragem tão cultuado.

Além disso, o título traz uma tecnologia de computação gráfica nunca antes vista no cinema em termos de fidelidade visual, algo que tem sido amplamente propagandeado não apenas pelo estúdio americano, mas também pelo diretor do filme, Jon Favreau, que já nos tinha dado a nova e excelente versão de Mogli: O Menino Lobo.

Trazer de volta um clássico absoluto e envolto em uma nova e excitante tecnologia são alguns dos fatores responsáveis pelo grande sucesso do filme, que chegou facilmente aos primeiros lugares de bilheteria, porém são justamente estes dois elementos os grandes culpados pelo completo desastre que este novo O Rei Leão é.

Embora não o considere a unanimidade dita por muitos, como a maioria das pessoas da minha idade, tenho um carinho imenso pela animação de 1994. O filme marcou o meu coração com suas dublagens e canções primorosas, além do seu visual e história encantadoras, que ainda hoje se mantém extremamente envolventes e exatamente por isso entendo porque este filme é tão importante para muitos, incluindo a própria Disney e as pessoas envolvidas nesta reimaginação. E aí começam os problemas.

Enquanto assistia ao filme me sentia viajando no tempo, não apenas porque a história principal do novo longa foi mantida idêntica ao material original, mas principalmente porque a construção das cenas é praticamente a mesma da animação de 25 anos atrás, que se preocupa até mesmo em recriar algumas tomadas nos mínimos detalhes. Um preciosismos com o passado que sabota este novo título logo nos seus primeiros momentos, o deixando preso a sombra do seu antecessor e culminando em um longa que já nasceu sem uma identidade própria.

E o mais triste te tudo é que os melhores momentos do deste novo O Rei Leão sejam justamente aqueles em que ele se afasta um pouco do material original, ao tenta dar mais substancia a elementos que já conhecíamos na primeira aventura de Simba, como o maior protagonismo de Nala, o aprofundamento da história de Scar e as consequências da ascensão do vilão ao poder. Momentos que dão profundidade e originalidade ao filme, mas que facilmente se perdem em meio centenas de referências e a construção da mesma história que já conhecíamos a mais de 20 anos. Narrativa que é completamente sabotada pela tecnologia empregada nela e que, apesar de ser impressionante, não ajuda em nada o longa.

Bonitinho, mas ordinário

Não há como negar a beleza da computação gráfica empregada no filme e em como ela reflete com perfeição os animais retratados nele: a um ponto em que, em alguns momentos, cheguei a esquecer por alguns segundos que o que estava vendo não era de verdade (uma sensação que me divertiu várias vezes).

O problema é que o emprego desta nova tecnologia, atrelada a proposta deste novo filme, simplesmente não se encaixam em O Rei Leão. Como a maioria das obras da Disney, os personagens do longa de 94 tinham uma concepção antropomórfica muito clara, ou seja, os animais traziam expressões humanas, algo que se encaixa perfeitamente em um filme que traz referências teatrais tão impactantes como Hamelt, de William Shakespear. Porém todas estas propostas se perdem completamente no filme novo devido a sua tecnologia, que traz um tom mais sério e "pé no chão", onde os animais (assim como na vida real) não tem expressões.

Quando colocamos esta proposta mais verossímil recriando momentos que foram concebidos levando em conta a intenção do filme original, que contava com o toque teatral de suas cenas e o ar caricato dos personagens, temos apenas cenas que se mostram vazias e sem sentimentos, onde personagens que eram extremamente carismáticos pelas suas expressões e trejeitos próprios se tornam animais lindos, mas insípidos, que apenas mechem a boca mecanicamente na hora de falarem.

Um problema que obviamente impacta toda a construção do filme, como a antológica cena da morte de Mufasa, onde todo o desespero do Rei ao ser jogado a morte pelo próprio irmão, ou o ar de choque e tristeza de Simba, ao ver a queda mortal do pai, perdem grade parte do impacto pela total falta de expressão dos personagens.

Problemas que ganham proporções ainda maiores durante as músicas do filme, onde o longa se torna uma grande tragédia não apenas pela pobreza das suas cenas, mas pelo desperdício de um time de atores e cantores do ponta. É justamente nos momentos cantados que o longa original mostrava seu ar teatral, onde o filme parava para que seus personagens pudessem fazer grandes performances, regadas a muito exagero e brincadeiras com jogos de câmeras ou façanhas engraçadas e absurdas, como na música “O Que Eu Quero Mais é Ser Rei”, onde Simba e Nala andam em emas e brincam em meio a animais que se empilham uns aos outros.

Uma proposta que nunca poderia ser enquadrada em um filme que tem um objetivo mais sério e real. Assim, sem poder realizar suas performances como no original, tudo que os animais podem fazer durante as músicas é correr de um lado para o outro, algo que soava estranho e repetitivo no começo do filme, mas realmente passou a me irritar conforme o longa avançava.

E como disse, um desperdício gigantesco de um time de atores excelente e que apesar de trazerem uma nova vida aos seus personagens, infelizmente não consegue trabalhar em parceria com figuras que, justamente por parecerem tão reais, não tem qualquer expressão.

O maior benefício da reimaginação dos grandes clássicos da Disney era dar ao público uma visão alternativa das animações que vimos na infância e reapresentar estas histórias para a nova geração, seja trazendo alterações significativa em seu roteiro, como em Mogli: O Menino Lobo, ou uma inversão completa destes contos, como em Malévola. Mas infelizmente esta proposta não conseguiu sobreviver a um filme tão grande quanto O Rei Leão, dando vida a um longa que infelizmente está fadado a viver sem uma alma.


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