02/07/2016 às 11h27min - Atualizada em 02/07/2016 às 11h27min

Executiva de vendas abre casa para crianças carentes

Ação em Votorantim envolve café da manhã, reforço escolar e recreação.

Fonte: G1 Notícias
Fonte: G1 Notícias

“Ensina a criança no caminho em que deve andar, e mesmo quando for idoso não se desviará dele.” O provérbio bíblico foi a inspiração para que uma executiva de vendas abrisse as portas de casa para a solidariedade. Há quase 17 anos, Celina dos Santos Menezes ou tia Celina, como é mais conhecida, recebe todos os sábados mais de 200 crianças e jovens carentes em sua casa no Jardim Novo Mundo, em Votorantim. Elas tomam café da manhã, têm reforço escolar, hora de recreação e almoço.

Quem vê Tia Celina, de 49 anos, feliz com o projeto e "saciada" com suas ações, não imagina que a sua história foi marcada pelo sofrimento de ver os três filhos envolvidos com drogas. Dois deles ainda estão presos. Mas a situação que tanto lhe fez chorar permitiu que ela desse o primeiro passo para transformar uma comunidade. A casa começou recebendo 35 crianças para uma palestra de prevenção ao uso de drogas e desde então não parou.

“Quando eles se envolveram com as drogas, eu fiquei muito desesperada. Eu vinha para a igreja e chorava muito orando e pedindo por eles. Um dia eu perguntei a Deus o que eu poderia fazer para mudar esse quadro e o versículo veio na cabeça. Então comecei a fazer um trabalho em casa com 35 crianças. O negócio foi crescendo e quando me dei conta, já estava com 167. Aquilo foi multiplicando e eu fui fazendo, conseguindo tirar muitas crianças da rua, das drogas e já faz quase 17 anos que faço esse trabalho”, conta.

O projeto cresceu tanto que criou uma rede de solidariedade no bairro. Para dar conta de aproximadamente 230 crianças e jovens, pelo menos dez pessoas fazem trabalho voluntário todos os sábados. Além disso, boa parte da comida que é servida vem de doação de outros moradores ou de estabelecimentos.

Atividades
A programação é simples, mas faz uma enorme diferença na vida de crianças que, muitas vezes, tem o crime e toda a violência gerada por ele como rotina.

“Elas chegam às 9h e tomam o café da manhã. Aí a gente faz a parte espiritual, da oração, e cada um senta à mesa. Tem reforço escolar, artesanato, pintura... Os mais velhos vão para o futebol e os menores para os brinquedos. Em torno das 12h, todos almoçam e pegam a surpresinha, que é o doce ou o que tivermos e vão para casa”, explica.

No fim do dia de trabalho, tia Celina não nega o cansaço e garante que ver os jovens afastados das drogas é a maior recompensa. “Quando acaba o trabalho no sábado, a gente está completamente cansada, quebrada, as carnes não estão aguentando parar em pé. Mas a alma está saciada, porque podemos dizer que fizemos nossa parte.”

Experiência de sobra
Feliz com todo o caminho que percorreu, tia Celina afirma que foi a experiência de sobra que a ajudou a fazer o que faz hoje. Ela não reclama dos dias de angústia e incerteza e sempre que pode visita os filhos, na prisão, para transmitir uma palavra de alegria.

“Se eu não sentisse na pele o que meus filhos passaram com as droga e com o presídio, eu jamais saberia fazer o que eu faço hoje. Primeiro tive que sentir a dor de uma mãe. Agora já sei trabalhar com uma mãe, com seu filho, com aquele que está preso, com o que está fora. Através disso fui me sentindo útil”, destaca.

Além de ir à cadeia onde os filhos estão, tia Celina também visita a penitenciária feminina de Votorantim. Ela dá apoio às mulheres que pedem ajuda e consegue cestas básicas para os filhos que ficaram em casa.

“Sinto-me uma pessoa realizada porque através da minha caminhada sou uma pessoa reconhecida. Na igreja, tem um grupo de jovens que saiu daqui do projeto e que onde vai se destaca. Alguns são meninos e meninas que saíram do abismo. Tenho essa missão e vou continuar trabalhando para cumpri-la, seja chorando ou sorrindo”, finaliza.


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