21/10/2023 às 13h02min - Atualizada em 21/10/2023 às 13h02min

Dilemas da (má) educação brasileira: dos baixos índices da educação básica à falta de qualidade na formação inicial de professores

Autores: Simone Teodoro e Moacir Castro
Recentemente, o MEC - Ministério da Educação - se pronunciou sobre o seguinte dado do Censo da Educação Superior 2022: “A cada 10 professores no Brasil, 6 se formaram em EAD. Significando, um salto de 28,2% (2002) para 60,2% (2022)”. Vejamos mais:
 
  • A qualidade da formação inicial dos professores (em EAD) é questionada;
  • Há evasão de 70% dos cursistas;
  • Não há regulação consistente do MEC sobre o mercado das EaDs no que tange às pedagogias e licenciaturas;
  • Não há uma política de incentivo para cursos presenciais.
 
Que tal começarmos com as perguntas? Quem é o responsável pela formação dos professores? Quem forma os professores no Brasil? Quem define os conteúdos das formações dos professores? Quais os critérios quanto às modalidades de ensino para o nível superior?

É interessante notar o espanto do MEC diante dos dados, que não é nada mais do que a denotação do abandono da formação dos professores no decorrer de anos. Basta ler em diversas pesquisas acadêmicas, que analisam as problematizações sobre dilemas da “formação docente”.

Os dados do MEC mostram o expressivo aumento das buscas pelas licenciaturas na modalidade EAD. A modalidade EAD não é, em si, o problema (de modo que o intuito deste texto não é demonizar a EaD, mas apontar problemas nos processos de formação docente), mas ela alarga um problema existente há décadas: a formação precária dos docentes no Brasil, sobretudo, pela falta de rigor do MEC na avaliação dos cursos.

Como professores formados totalmente à distância darão boas aulas presenciais? O quesito “interação”, fundamental no processo educacional está mesmo sendo desconsiderado na formação de formadores?

Por falar da qualidade da educação, um dos critérios dessa qualidade é no quesito “formação docente”. Portanto, há que se ter uma regulação nos cursos de formação de professores. Neste aspecto cabe suspeitar um pouco da consagrada política de formação continuada com viés “tapa buraco” de defasagens da formação inicial.

Até quando a educação vai trocar o pneu com carro andando? Professores concluem cursos de graduação, começam a dar aulas e passam um tempo infinito em formação continuada, mediante a hipocrisia da política da “continuidade” dos tapa-buracos. Convenhamos, a educação virou uma rua abandonada.

Recentemente, começamos a discussão da metodologia de busca por resultados na educação, a chamada complementação VAAR - valor aluno ano por resultados; a complementação da união que garantirá o percentual de investimento para municípios que apresentarem impactos de aprendizagem, condicionados à gestão da educação.

A complexidade da falta de resultados educacionais envolve tantos fatores, fatores também de responsabilidade da própria União, como a formação docente. Afinal, é o município que cuida da formação inicial dos professores? Não! Para não dizer: “ora, mas que complicado!”, vamos aqui na linha de hipocrisia coaching: “poxa, mas que desafiador…”

A valorização da educação precisa iniciar nos formadores de educandos, nos contextos de constituição de suas práticas, de sua persona educativa, de seus saberes e identidade, de suas instrumentalizações para o ato educativo. Afinal, como não cuidar dos que cuidam? Como não zelar pela formação de quem forma as crianças e adolescentes?

Categoricamente, a valorização não passa somente pelo piso, passa concomitantemente pela carreira e formação. Solidificar a formação dos educadores e garantir seus rendimentos, como é devido, isso, sim, é valorização! E, mais, vou afirmar: não há uma política nacional para efetivar a valorização dos profissionais da educação.

Pois bem, a qualidade educacional tem preceitos basilares, e um deles é a formação docente que grita por revisão não somente quanto ao modo de formação (à distância ou presencial), bem como, o que é estudado dentro dessas formações. Desse modo, cabe findar o diálogo ainda com perguntas, tal como começamos: quem formará os professores? Em decorrência de tal questionamento, quem está definindo as formações na educação básica? Qual o entrelaçamento entre a má qualidade da formação dos professores com a má qualidade da educação básica - um resulta do outro (ou não)? Teremos ações para incentivar os cursos presenciais e refinar os processos de aprovação, monitoramento e avaliação dos cursos EaD na área da educação?

Poderíamos dizer que a conta chegará no futuro, mas as contas já estão chegando nos altos índices de analfabetismo. As crianças e os jovens de hoje já pagam pelas mazelas históricas da Educação no Brasil. Aguardemos as mudanças, sabendo que o futuro da educação de cada criança e adolescente é exatamente agora! A Educação não pode ficar para depois, embora já esteja à margem dos interesses governamentais. Não podemos deixar que o projeto de (des) educação em curso se perpetue sem nos posicionarmos com indignação, como já nos alertara o Patrono da nossa Educação Paulo Freire em várias de suas obras.

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