15/05/2023 às 13h48min - Atualizada em 15/05/2023 às 13h48min

Prefeitura interdita cooperativa de reciclagem em São Roque

Segundo a administração, foram constatadas diversas irregularidades na atuação da Cooper Sol. Ao todo, pelo menos 15 pessoas ficaram desempregadas

Da Redação: Ana Laura Gonzalez
Foto: Isabella Lovisolo
Na última semana, um assunto que ficou em evidência através das redes sociais foi a situação da Cooper Sol, cooperativa de reciclagem de São Roque, que foi interditada recentemente após mais de 16 anos de atuação no município e deixou pelo menos 15 famílias desempregadas. De acordo com a presidente, Patricia Santos, além de estarem sem renda, os cooperados foram multados pela Vigilância Sanitária em mais de R$ 10 mil.

Ela conversou com a nossa redação na tarde desta quarta-feira (10) e explicou que o local não possui quase nenhum apoio do Poder Público, e o que levou a cooperativa à interdição foi a falta de manutenção no espaço e a quantidade de lixo que a empresa terceirizada da prefeitura não retirava. “Com essa falta de manutenção, não conseguimos o alvará que é preciso para o funcionamento da cooperativa. De uns anos para cá eu venho tentando contato com a administração municipal para pedir ajuda com reformas no galpão, mas não tenho resposta”, afirmou a presidente.
Ainda segundo ela, a Cooper Sol nunca quis muito do Poder Executivo e pede apenas a reforma do galpão, que pertence ao governo são-roquense. “Toda vez que tentávamos reformar por conta própria, sempre vinham funcionários da prefeitura para interromper e dizer que a administração faria a manutenção, que ainda não aconteceu”, declarou Patricia.

No último sábado (06), a cooperativa recebeu a visita do vereador Paulo Juventude e do porta-voz da REDE Sustentabilidade São Roque, Luan Townsend, que posteriormente divulgou um vídeo no Instagram mostrando as condições de emergência e abandono que há anos o local se encontra. “Além de implicar em uma agenda nada sustentável, são 15 trabalhadores e trabalhadoras com suas famílias que dependem da Cooper Sol como sua principal fonte de renda, mas após a interdição não possuem trabalho, dignidade e, portanto, sem comida no prato”, diz o texto descritivo do material divulgado.

Townsend afirma que a REDE Sustentabilidade assumiu o protagonismo de reverter essa situação e, junto ao mandato do parlamentar, busca intermediar tratativas com o prefeito de São Roque, Guto Issa, para uma solução eficiente, sustentável e pragmática para resolver este problema o mais breve possível. “São Roque tem tudo para dar um belo exemplo de como ser uma cidade mais sustentável, com alto índice de reciclagem de sua coleta seletiva e de como estimular o desenvolvimento econômico a partir do setor que envolve a cadeia de reciclagem. Vamos agir!”, destacou ele.

No entanto, em conversa com o JE, o porta-voz da REDE Sustentabilidade nos atualizou em relação a novidades depois do contato com a administração municipal que aconteceu nesta semana. Ele explica que procuraram diretamente o prefeito Guto Issa para uma conversa e que tinham a expectativa de que houvesse uma prioridade por parte do governante, o que não ocorreu. A partir disso, foi conseguida através do vereador Diego Costa uma reunião com o assessor jurídico e o assessor de gabinete da prefeitura.

“Eles nos receberam e a gente conseguiu o compromisso de que os trabalhadores da cooperativa tenham preferência para serem empregados se quiserem na Frente de Trabalho daqui a algumas semanas e que sejam atendidos no Bem-Estar Social para conseguirem cestas básicas. Foram promessas que partiram desses dois servidores, mas é uma garantia mínima que a gente obteve. O que queremos realmente é algo um pouco mais justo, que seria o amparo do Poder Público a essas cooperativas após esse longo processo todo de abandono por parte da Prefeitura, tanto em gestões passadas quanto na atual”, disse Luan.

O porta-voz ainda declara que no encontro chegou a propor que a Prefeitura conceda um outro local, porque espaços não faltam para o governo são-roquense. “A intenção é que um novo local seja subsidiado à cooperativa para que ela se mude para um espaço com mais dignidade, infraestrutura e tenha um funcionamento correto. Isso ainda não conseguimos e, pela conversa que tivemos, é muito difícil que aconteça”, ressaltou Townsend.

Na cidade de São Roque em diversos pontos a reportagem do JE encontrou diversos sacos de lixo reciclável, largados, já que a cooperativa não está operando.

O Jornal da Economia questionou a Prefeitura de São Roque sobre o caso e, em resposta, o governo municipal informou que interrompeu as atividades da Cooper Sol, após apuração de diversas irregularidades constatadas no local de atuação da cooperativa. “Fundada em 2008, a entidade atuava na destinação de materiais recicláveis no município, entretanto, com o passar dos anos, suas atividades passaram a se deteriorar, culminando numa série de transgressões apuradas por agentes da administração. É importante esclarecer que, sendo uma entidade privada, a cooperativa atua de forma independente da administração municipal, que apenas cedeu o espaço físico em gestões passadas para que a entidade realizasse sua operação, sendo ela a única responsável pela realização de suas atividades”, disse a Prefeitura.

O Poder Executivo ainda destaca que, após receber ações de vistoria promovidas por profissionais da Vigilância Sanitária, foram constatadas diversas irregularidades na atuação da cooperativa. “Além de atuar sem as devidas autorizações, profissionais da Cooper Sol trabalhavam sem equipamento apropriado e num ambiente insalubre, sendo que alguns deles moravam de forma irregular no imóvel utilizado pela cooperativa. Deste modo, por não conseguir cumprir de forma apropriada suas atividades e colocar seus trabalhadores em condições insalubres, as atividades da cooperativa foram suspensas após interdição da Vigilância Sanitária”, continuou o governo são-roquense, frisando que a interdição ocorreu por questões de saúde e não por questões estruturais do galpão presente no local.

Além disso, a administração municipal reforçou seu compromisso em zelar pelo bem-estar dos profissionais que prestavam seus serviços à cooperativa. “Os trabalhadores serão incluídos no Programa Frente de Trabalho, terão a oportunidade de realizarem cursos gratuitos de capacitação profissional e poderão ser absorvidos pela futura empresa que assumir a destinação de reciclagem na cidade, processo que será realizado através de licitação. As ações de amparo aos antigos profissionais da cooperativa foram firmadas junto ao Ministério Público do Trabalho através de um Termo de Compromisso, proposto polo próprio Poder Executivo São-roquense e que segue em vigência”, finalizou.

Para o vereador Paulo Juventude – que vem acompanhando a situação da Cooper Sol e o momento de fragilidade dos cooperados –, “a Prefeitura é responsável, sim”. O parlamentar diz que ela foi colocada em um processo judicial em que o réu era a cooperativa, mas foi adicionada pela cooperativa como uma corresponsável do assunto, já o decreto que faz cessão do espaço coloca dessa forma. “Em diversos momentos a Prefeitura também se responsabilizou pelo espaço, fazendo vistorias no lugar nesses últimos dois anos, que é o que eu posso afirmar aqui. Se responsabilizando, por exemplo, pelo motor da esteira, que foi retirado e levado para algum lugar da Prefeitura para ser arrumado. Não tinha como não interditar a cooperativa, concordo, mas a gente precisa fazer uma gestão mais próxima. Vamos reestruturá-la e colocar qualificação para esses cooperados”, declarou ele.

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