Opostos
A luz piscou, acendeu, titubeou, devagar, expandiu, acabou. Dois lampiões, reflexos do presente mitos do passado. Entre ambos as velas depositadas na gaveta ao lado de uma discreta caixa de fósforos aguardam o momento solene de sua entrada no palco das sombras, das imagens indefinidas a bailar nas paredes de cal. O ontem e o hoje, ali presentes, silenciosos, solenes cientes de sua importância. Poderíamos até dizer que debatem sobre quem é o artista mais importante. De lá para cá acabei por recordar de um fantástico conto de Machado de Assis, "Um Apólogo", no qual a agulha e a linha tentavam mostrar a sua importância. Enquanto isso, eu, divago entre as imagens do meu consciente e inconsciente.
Poderia estar até a fazer algo mais importante como assistir a um noticiário desses que se repetem vinte e quatro horas sem fim. Apesar dessa proposta recordei, tornei ao passado. Ao lado do toca discos de setenta e oito rotações um novo móvel acontecera: a TV branco e preto. Como que depositada em um altar, altaneira dominava a sala. O oratório com o padroeiro da casa estava relegado ao esquecimento. As novelas a substituir as emissões das rádios importavam mais e acabaram com os diálogos! Depois ficaram coloridas as antenas de pernas escancaradas perderam o charme. Agora vêm dotadas de novos e novos recursos. No hoje? Estamos reduzidos ao dedo indicador e a um IPOD, por enquanto. Enfim, tudo mudou e os diálogos desapareceram, pessoas desaprenderam o falar e reduziram raciocínios ao quase nada. Agora tudo tem quer ser rápido, curto, breve e o sentido perde-se nas sombras: fantasmas da modernidade.
Assim fico a pensar onde está o sentido da vida e a parafrasear Carlos Drummond de Andrade e José Saramago: "E agora José?" (Afinal também sou José, embora não chegue nem na barra da sotaina de ambos)
Francisco Sacramento
Palestrante/professor especializado em atendimento ao cliente e gestão de recursos, Francisco Sacramento. Administrador de Empresas Graduado e Pós-graduado pela Fundação Getúlio Vargas – SP, mestre em Administração pela UMESP – Universidade Metodista de São Paulo. Professor, palestrante, fotógrafo, orquidófilo. Membro da Academia de Letras Araçariguama (cadeira Guilherme de Almeida). É autor de artigos científicos ou não publicados na mídia escrita.