20/04/2020 às 17h17min - Atualizada em 20/04/2020 às 17h21min

Drauzio Varella fala sobre desigualdade no Brasil e prevê ‘tragédia nacional’ por coronavírus

Médico ainda disse que se arrepende por ter sido otimista a respeito do vírus

- Foto: Divulgação
Fonte: Época Negócios / BBC News Brasil

Às vésperas de completar 77 anos, o médico cancerologista Drauzio Varella disse em entrevista à BBC News Brasil, que se arrepende por ter demonstrado otimismo a respeito do novo coronavírus. Ele afirma que quando as primeiras informações sobre o vírus começaram a surgir, em dezembro do ano passado, considerou que se tratava de uma doença de baixa letalidade, como aparentavam os dados até então disponíveis. “Eu participei desse otimismo e me recrimino por isso hoje”.

O médico ultimamente tem vivido uma rotina profissional movimentada nas últimas semanas, mesmo estando em quarentena. Participa de reuniões diárias na parte da manhã do mais recente grupo “Todos pela Saúde”, mesmo em que ele está unido com mais sete técnicos que trabalham para encaminhar uma doação de R$ 1 bilhão, feita pelo Itaú Unibanco ao combate da covid-19, com as demandas que recebe pela sua função, esclarecendo dúvidas e orientando sobre a doença.

Varella, em meio ao avanço da pandemia no Brasil, prevê que tudo isso levará o país a uma “tragédia nacional” durante o processo, levando em conta a principal peculiaridade brasileira: a desigualdade social. Essa situação impõe modos de vidas muito diferentes para ricos e pobres, o que limita grande parte da população a acessar medidas que previnem o contágio do vírus, como lavar sempre as mãos, fazer uso do álcool gel e aderir ao isolamento social.

De acordo com dados do Instituto Data Brasil de 2017, o Brasil possui 35 milhões de habitantes sem acesso à rede de água potável. Já em 2018, uma pesquisa apontou a quantidade de 13,5 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha de extrema pobreza, com menos de R$ 145 mensais.

"Eu acho que nós vamos ter um número muito grande de mortes, vamos ter um impacto na economia enorme, uma duração prolongada", prevê Drauzio, ressaltando que a desigualdade do país será a principal razão de todo o caos.

"Agora é que nós vamos pagar o preço por essa desigualdade social com a qual nós convivemos por décadas e décadas, aceitando como uma coisa praticamente natural. Agora vem a conta a pagar. Porque é a primeira vez que nós vamos ter a epidemia se disseminando em larga escala em um país de dimensões continentais e com tanta desigualdade", declarou para a BBC News Brasil, também dizendo acreditar que o estado de pandemia trará mudanças profundas na sociedade.

"Acho que o sofrimento é uma pressão para o aprendizado. Todos nós vamos perder amigos, muitos vão perder pessoas da família, e isso vai nos ensinar que não é possível viver como nós vivíamos até aqui".


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