03/08/2019 às 10h00min - Atualizada em 02/08/2019 às 13h30min

O que está sendo feito pelos o moradores de rua em São Roque?

JE sai as ruas para conversar com as pessoas que vivem nas ruas e com os órgãos que amparam esta população

- Da Redação: Rafael Barbosa / Carlos Mello
Da Redação: Rafael Barbosa

A situação dos moradores de Rua em São Roque não é recente, porém é um assunto que chama mais atenção durante o inverno, onde a presença de grupos de pessoas que se aninham ao relento para tentar descansar fica mais evidente.

Segundo o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) de São Roque, atualmente existem cerca de 43 moradores de rua cadastrados no município, embora o dado não leva em conta o número de itinerantes, que são as pessoas que apenas passam pela cidade por poucos dias com o objetivo de irem a outros locais.

O número de moradores de rua aumentou na região e no país? É provável devido a situações sociais como a crise econômica que atinge o Brasil, porém o quadro não pode ser medido com exatidão. Segundo o Cientista Social, Dr. Luciano Freitas Oliveira, falta uma medição mais atual sobre a situação dos moradores de rua no país, para que se possa medir os efeitos sociais no aumento das pessoas em situação de risco.

Entretanto, quem é o morador de rua?

Trabalhando há cerca de 15 anos sobre o assunto, Luciano explica que pessoa em situação de rua é aquela que vive e sobrevive da rua, ou seja, que obtém o seu sustento de ações desempenhadas pela cidade (como pedir esmola) e não tem uma residência onde se abrigar. No caso de crianças, caso ela esteja enquadrada em qualquer uma das situações anteriores ela já pode ser classificada como uma moradora de rua.

Assuntos que foram abordados durante uma oficina organizado pelo CREAS São Roque e que reuniu diversos grupos de acolhimento municipal na Brasital, para abordar o tema. “O objetivo desta oficina é mostrar o trabalho desenvolvido pela Prefeitura de São Roque e produzir parcerias para que possamos ampliar a escala da proteção social às pessoas em situação de rua”, comenta Luciano. 

Conhecendo o morador

A ação de amparo a moradores de rua é também desempenhada tanto no setor privado, em importantes trabalhos realizados por instituições religiosas, porém é no setor público que estas ações encontram o seu maior foco.

Como é o caso do CREAS, vinculado à Prefeitura de São Roque e que atua na linha de frente no amparo a estas pessoas carentes. O órgão conta com 12 funcionários cuja função é oferecer amparo a estas pessoas que estão à margem da sociedade. “Nosso trabalho é garantir que este indivíduo possa exercer seus direitos como cidadão, como ter acesso a saúde e alimentação", comenta Claudia Benatti Moreschi, coordenadora do CREAS.

Para executar este trabalho, o centro é o encarregado de registrar todas as pessoas que estão em situação de rua, trabalho que começa na abordagem, onde os agentes procuram os moradores de rua para que possam conhecê-los, apresentando e oferecendo o trabalho do CREAS a estes cidadãos. Além de poder encaminhar a pessoa para o abrigo municipal, os profissionais também podem ajudar os indivíduos a emitirem seus documentos, a se inscreverem no cadastro único (que é entrada para programas federais como o Bolsa Família), atuando desde ações complexas como tentar reunir o morador de rua novamente com sua família, até ações mais rotineiras como a emissão de currículo e ajuda para o encaminhamento ao PAT da cidade.

O amparo do CREAS visa um objetivo mais profundo, de ajudar na readequação social, econômica e psicológica do morador de rua, para que a pessoa possa novamente ser um cidadão socialmente ativo e parte integrante e produtiva da sociedade.

Um trabalho que tem dado resultados, com a readequação destas pessoas à sociedade, mas que encontra o seu maior obstáculo na falta de conhecimento da população. Falta de conhecimento que muitas vezes acaba afetando o próprio trabalho do CREAS, fazendo com  que as pessoas não acionem o centro no momento certo ou pelo próprio morador de rua, que muitas vezes não aceita a ajuda, seja por simplesmente não querer, não saber que tipo de serviço será oferecido, não conhecer as pessoas, ou pelo medo que a vida ao relento traz aos moradores.

Pessoa como Fernando, com quem tive a oportunidade de conversar enquanto dormia na rua, muito perto da sede do Jornal da Economia. “A gente passa frio, fome, humilhação, mas algumas vezes aparecem pessoas bacanas e que querem ajudar”, comenta o homem de 38 anos, e que está na rua desde fevereiro, após uma desavença com a família, sobrevivendo do que consegue ganhar enquanto anda pela cidade, em uma vida que traz diversas privações.

Ele tem recebido a ajuda do CREAS e já chegou a distribuir currículos em busca de trabalho, uma tarefa ingrata em um país que sofre com mais de 13 milhões de desempregados. “Já trabalhei no Supermercado São Roque, Gerdau, mas não consigo arrumar emprego, ainda mais nesta situação. Mas quero ter uma vida melhor, voltar a trabalhar e, quem sabe, estudar”, completa.

Oferecendo abrigo

Outra ação importante no amparo a estes moradores é o do abrigo de São Roque, também ligado a Prefeitura e que atua em parceria com o CREAS para tentar adequar moradores de rua ou em situação de necessidade na cidade. Uma ação que, segundo o coordenador do local, Rogério Alves, encontra sua maior dificuldade na falta de informação da população.

 “A questão social não é matemática, pois ela envolve uma série de fatores, inclusive sobre como as pessoas veem os desabrigados. Costumo dizer que a percepção da população muda com as estações: no inverno o morador de rua é um coitado, mas no verão ele é um vagabundo”, comenta.

Segundo Rogério, o abrigo atua em parceria com o CREAS e com o apoio importante da Ambulância e da Guarda Municipal, não apenas oferecendo alimento e um lugar onde eles possam dormir, mas também ajudando pessoas com ações de campo nestes dias de inverno, já que até o dia 20 de agosto o abrigo realiza ações noturnas em busca de pessoas que necessitem de abrigo (ver box).

O coordenador comenta que a ação do abrigo é importante pois, ele ajuda a pessoa resgatar um pouco da dignidade de dormir sobre um teto e se relacionar com as pessoas, algo que não está presente na vida do morador de rua, alguém que vive o momento e muitas vezes não tem perspectiva.

O local conta com 20 lugares para pernoites, mais cinco emergenciais e atende 24 horas por dia e sete dias por semana, oferecendo alimento, abrigo e podendo ser disponibilizado documentalmente como residência fixa às pessoas atendidas por ele, além de ações de socialização.

Atividades que ocorrem de forma intensa, já que em 2018 o abrigo ofereceu 2035 pernoites e mais de cinco mil refeições a pessoas necessitadas, além de atuar também no fornecimento de passagens para itinerantes que queiram seguir para Sorocaba ou Itapevi, ação feita com acompanhamento para saber se a pessoa precisa mesmo e fornecida a mesma pessoa após seis meses.

O abrigo deve passar por expansão em breve para ampliar suas atividades e já estão sendo estudadas as possibilidades de uma parceria com o Alcóolicos Anônimos, para tentar combater o mal do alcoolismo que tanto afeta algumas pessoas nestas condições.

Ações que integram uma grande rede de iniciativas que segundo seus coordenadores, têm apresentado resultados reais em não apenas devolver a dignidade a estas pessoas, mas também a readequá-las ao convívio social para que elas possam exercer seus direitos como cidadãos e também contribuir como membros ativos da sociedade.

Um movimento muito importante e que pode contar com o apoio de toda a sociedade.

O que fazer quando encontro um morador de Rua?

É importante que as pessoas entendam como lidar com o morador de rua. Segundos os próprios agentes do CREAS São Roque, é necessário entender que a população em geral pode se sentir desconfortável com a presença de um estranho nas proximidades de sua residência e com receio do local ficar sujo, embora em geral moradores de rua limpem o local onde pernoitam.

Porém é interessante que as pessoas saibam qual o trabalho que o centro e o abrigo municipal desempenham para que possam orientar a pessoa em situação de risco e também buscar a ação destes órgãos.

Quando ver a pessoa dormindo na rua ou pedindo comida, pergunte qual o nome da pessoa e repare em algumas características físicas do indivíduo. Questione se ele precisa de ajuda, se tem uma residência e se conhece o trabalho do CREAS e do abrigo, localizados respectivamente na Av. Antonino Dias Bastos, 1045 e na Rua Cap. Silveira Vieira, 94.

Caso a pessoa peça alguma coisa, você pode escolher dar ou não, mas é sempre interessante orientar sobre os trabalhos de apoio da cidade e após isso entrar em contato com o CREAS (4784 1549) até as 17h e após este horário no abrigo (4712-2255), que funciona 24 horas em todos os dias da semana.

Ao entrar em contato com o órgão, informe o local onde o desabrigado estava, seu nome e a aparência física. Entretanto, vale lembrar que o serviço não será oferecido ao cidadão e mesmo que ele recuse, ele passará a ser monitorado pelos órgãos competentes.

Entretanto é importante lembrar que estas ações só devem ser feitas quando a pessoa não tem casa e esteja, fisicamente bem ou sã. Caso a pessoa esteja passando mal, é indicado ligar para o 192.


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