01/05/2019 às 14h36min - Atualizada em 24/05/2019 às 16h54min

Alcoólicos Anônimos fazem importante trabalho na luta contra o alcoolismo em São Roque e região

A importante luta de uma irmandade contra o alcoolismo

- Fotos: Reprodução / internet

Da Redação: Rafael Barbosa

“Eu sou Alcoólatra”. Apesar de ser uma frase simples, esta sentença de apenas três palavras pode ser insuportavelmente difícil de ser dita, apesar dela se referir a uma boa parte da população mundial. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que 237 milhões de homens e 46 milhões de mulheres sofram com transtornos relacionados ao consumo de álcool e que acabam trazendo transtornos diversos, seja no âmbito familiar, social e também da saúde, já que de acordo com a organização, 3 milhões de mortes por ano são causadas em todo o mundo em razão do uso nocivo de bebidas alcoólicas.

Dados preocupantes e que se tornaram um problema de saúde pública, tanto que o Sistema Único de Saúde presta atendimento gratuito para as pessoas que têm problemas com bebidas como parte da Política Nacional de Saúde Mental, através do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), além de clínicas particulares que também oferecem suporte.

Porém, existe um grupo de pessoas espalhado pelo mundo e que também presta amparo às pessoas que querem deixar de beber. Os Alcoólicos Anônimos, conhecidos como AA, são uma irmandade de pessoas espalhadas pelo mundo com um único objetivo: superar a dependência alcoólica e ajudar outras pessoas que estejam na mesma condição a fazer o mesmo.

A irmandade foi fundada na década de 30, nos Estados Unidos, por dois homens que buscavam uma solução para seus problemas com a bebida, através do diálogo e troca de experiências. O AA então se expandiu e hoje conta com cerca de 115 mil grupos espalhados pelo mundo, onde por volta de dois milhões de pessoas se reúnem regularmente para falarem sobre a luta contra o alcoolismo, que é considerado uma doença pela OMS.

Luta regional

No Brasil, existem atualmente cerca de cinco mil grupos, sendo que dois deles atuam aqui em São Roque. O Grupo Corações Unidos atua na cidade desde 1998, enquanto o Grupo Junqueira está na ativa desde 2016, sendo que ambos os grupos são frequentados pelas mesmas pessoas, que se reúnem para corajosamente admitir seu problema com o alcoolismo e buscar evitar esta condição.

Durante minha visita a uma das reuniões do Grupo Junqueira, pude ouvir relatos de pessoas de todas as camadas sociais, e que chegaram ao AA de maneiras diversas, mas que trazem histórias com muitas semelhanças. A principal delas é a dificuldade em admitir que se tem um problema com o álcool.

“Você nunca sente que é um alcoólatra. Para algumas pessoas, isso é até ofensa”, comenta um membro da irmandade, durante seu depoimento na reunião. Como acontece com muitas pessoas, ele começou a beber desde muito cedo, aos 13 anos, prática que manteve quase que diariamente até os 60 anos e que lhe causou diversos problemas sociais e familiares, que apenas se agravavam apesar das suas tentativas de largar a bebida. “A gente fala que vai parar de beber e realmente acredita nisso, mas a manhã chega e com ela a necessidade de tomar alguma coisa. Quando saímos de uma clínica de reabilitação, temos a ilusão que vamos mudar, beber apenas socialmente, mas isso não acontece”.

Uma vontade que muitas vezes se torna insuportável e exige que a pessoa tenha sempre perto dela uma bebida qualquer, como contam outros membros do grupo que relatam que levavam garrafas de bebida dentro do carro, dentro de casa e que precisavam ter ao seu lado um copo para desempenhar até mesmo ações rotineiras como cortar o cabelo e até mesmo tomar banho.

Na mente da pessoa alcoólica, muitas vezes a bebida é uma presença constante, seja física ou mesmo mentalmente. "Lembro que bebia em casa, ia para o trabalho e pensava no que ia beber quando saísse do emprego", conta uma integrante do grupo ao falar como quase ficou desempregada por causa do consumo de álcool e como encontrou no AA o conforto para se recuperar.

Claro que nem sempre os casos são tão extremos e, na verdade, o AA atende pessoas que têm problemas com bebidas em diferentes escalas, sempre procurando dar um amparo e uma palavra amiga às pessoas necessitadas. As sessões são simples, com depoimentos, momentos de reflexão e o compartilhamento de experiências para que as pessoas possam se identificar e que possam se sentir inspiradas para buscarem a saída para um problema que muitos acham não ter solução.

Sem Julgamentos ou cobranças

Não existem julgamentos no AA, as sessões são abertas ao público e a pessoa que quiser participar não precisa nem mesmo falar ou se identificar em um primeiro momento. Ela pode apenas escutar até sentir-se confortável para falar sobre ela mesma e, se quiser seguir, também pode contar com um “padrinho”, escolhido por ela mesma para quem ela possa recorrer em caso de necessidade ou sobre dúvidas sobre as práticas do grupo.

E assim a pessoa segue os passos da irmandade, que não tem ligação alguma com seitas, religiões ou grupos políticos, na esperança de aprender a dominar seus desejos pela bebida e aprender a viver com ela caso tenha uma recaída, isso não tem relevância. Tudo que ela precisa fazer é continuar indo às sessões e tentar de novo, sem cobranças ou pressões, pois a meta do grupo é se manter sóbrio pelas próximas 24 horas e após este período, sempre buscando a sobriedade por um dia de cada vez.

“Não julgamos ninguém. Não teria cabimento pois seria o sujo falando do mal lavado. Por isso não condenamos quem fabrica, vende, ou consome bebidas. Todos somos livres para viver nossas vidas da maneira que quisermos. Tudo que você precisa para ingressar no AA é a vontade de parar de beber, mas ele não é só isso, ele proporciona uma mudança de hábitos, para nos ajudar a entender nossos problemas e defeitos de caráter, para que possamos lidar com eles e nos aceitar”, comenta outro integrante do grupo.

Isto é o AA, um grupo de pessoas que buscam se ajudar e enfrentar seus problemas e que sobrevive de suas próprias contribuições. Pode parecer estranho que eu não tenha citado nomes ou idades nesta matéria, mas a verdade é que a identidade destas pessoas não importa, e sim a sua causa, compartilhada por milhões de pessoas ao redor do mundo. Uma causa que não tem nome, mas também vítimas, sejam elas as pessoas vítimas do alcoolismo ou aqueles que as amam, como amigos e famílias e que podem ser amparados pelo apoio destes heróis anônimos, que buscam superar suas adversidades através do amor e compreensão.

“Hoje minha mulher diz que se alegra de ouvir o barulho da minha chave à porta, quando chego em casa no mesmo horário, porque antes ela não sabia que horas chegaria e qual seria o meu estado. Estou me recuperando pois quando cheguei recebi esse amor incondicional. Ninguém perguntou quem eu era, quando eu bebia, se tinha feito algo errado. Tudo o que recebi foi amor e compreensão", comenta outro integrante do grupo, que assim como seus companheiros, enfrenta e ajuda outras pessoas a enfrentarem diariamente esta eterna doença chama alcoolismo.

Onde encontrar os Alcoólicos Anônimos em nossa região

Para maiores informações através dos telefones: (11) 3315-0040 e 2215-9333

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