16/07/2016 às 13h37min - Atualizada em 16/07/2016 às 13h37min

Tentativa de golpe militar provoca caos na Turquia

Autoridades turcas anunciam que ala das Forças Armadas tentou tomar o poder no país; presidente turco convoca a população a resistir

Fonte: Revista Época
Fonte: Revista Época

Uma tentativa de golpe militar na Turquia levou caos às ruas da capital turca, Ancara, e de Istambul, a maior cidade do país, nas primeiras horas de sábado (16, no horário de Brasília ainda sexta-feira). O primeiro-ministro da Turquia, Binali Y?ld?r?m, anunciou que havia uma tentativa de tomada do poder por uma ala das Forças Armadas. Tanques e soldados ocuparam as ruas.

Até as 5 horas da manhã de sábado em Istambul (23 horas de sexta em Brasília), não havia informações sobre que grupo estava no poder no país. Inicialmente, imagens e relatos divulgados por agências de notícias e, principalmente, nas redes sociais traziam grupos militares bloqueando vias e no comando de pontos-chave no país. Entretanto, com o apelo do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, para que a população fosse às ruas contra o golpe, começaram a ser divulgadas cenas de enfrentamentos entre civis e militares e de soldados presos por policiais.

As primeiras imagens sobre a tentativa de golpe mostraram militares tomando o controle das duas principais pontes sobre o Bósforo (a do Bósforo e a Fatih Sultão Mehmet, em Istambul, que ligam o lado europeu ao asiático da cidade), do aeroporto de Istambul Ataturk e da TV estatal. Houve relatos de autoridades presas pelos soldados e de toque de recolher imposto pelos militares.

"As Forças Armadas da Turquia tomaram controle da administração do país para restaurar a ordem constitucional, a liberdade e os direitos humanos, o estado de direito e a segurança geral, que estão danificados", informou  a ala militar que promovia o golpe, em nota divulgada pela TV estatal. "Todos os acordos internacionais continuam válidos. Nós esperamos que todas as nossas boas relações com todos os países continuem." A emissora saiu do ar em sequência. Horas mais tarde, a TV voltou ao ar e a âncora que leu o comunicado dos golpistas afirmou que foi obrigada a fazê-lo, sob ameaça de homens armados. O sinal foi restabelecido após outros militares, contrários ao golpe, retomarem o local. 

Outra emissora que saiu do ar em meio ao caos na Turquia foi a CNN turca. A entrada de militares no prédio da TV foi transmitida ao vivo pela página do Facebook da CNN Turk. Quando os homens chegaram ao estúdio, a apresentadora disse: "É isso. Temos de ir". E a bancada ficou vazia. Uma câmera foi mantida ligada e seguiu transmitindo a movimentação via Facebook. 

Houve relatos de troca de tiros e explosões em Ancara e no aeroporto de Istambul. Imagens divulgadas nas redes sociais mostraram ao menos cinco corpos, em trajes civis, de pessoas atingidas em confronto com militares na Ponte do Bósforo. De acordo com a CNN Turk, um caça F-16, das Forças Armadas turcas, abateu um helicóptero usado pelos golpistas em Ancara. 

Erdogan convoca população contra golpe

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, de férias, não estava em Ancara quando eclodiu o golpe. Segundo relatos da imprensa internacional, ele está bem e em segurança. Erdogan falou por FaceTime (aplicativo de chamada de vídeo) à rede de TV CNN Turk e convocou a população para resistir ao golpe. "Isso é uma revolta dentro das nossas Forças Armadas. Eu convoco a população a ocupar praças e aeroportos. Eu estou no poder neste país. Aqueles que tentaram o golpe pagarão um preço alto", disse. 

Por volta das 4 horas da manhã deste sábado (22 horas de sexta-feira em Brasília), Erdogan posou no Aeroporto de Istambul Ataturk. Ele foi recebido por uma multidão que, atendendo a seu apelo anterior via FaceTime, havia se dirigido ao local. "Minha bandeira é minha honra, meu país é minha honra e é por isso que eu vim aqui morrer. Estou preparado para morrer", disse Erdogan. O presidente afirmou que os militares que participaram da tentativa de golpe começavam a ser presos. Ele também disse que o hotel na região litorânea turística de Marmaris, onde ele estava, foi bombardeado assim que deixou o resort. 

A Turquia, um país que está tanto na Europa quanto na Ásia, é um dos atores mais importantes para a estabilidade no Oriente Médio. O país é membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e compartilha armas nucleares. Faz fronteira com a Síria e enfrenta dificuldades de controlar as fronteiras, especialmente por conta das operações do Estado Islâmico e pela crise de imigrantes.

Recentemente, a Turquia se tornou um dos principais alvos do terrorismo. Só em 2016, foram 14 ataques, o mais recente no Aeroporto de Istambul.

Erdogan está no poder na Turquia desde 2003. Ele foi eleito primeiro-ministro em 2002 e governou até 2014. Depois, seu partido promoveu uma mudança no sistema político do país, o que permitiu que ele se candidatasse e fosse eleito presidente em 2014. Em 2013, ele enfrentou uma série de protestos. As manifestações foram reprimidas com tanques e soldados. 

Apesar das críticas a seu governo e da rejeição, especialmente por parte do eleitorado secular, Erdogan conta com o apoio de parte da população e foi eleito democraticamente. Golpes militares são correntes na história recente da Turquia. Aconteceram em 1960, 1971 e 1980. Em 1997, houve uma intervenção militar.

EUA divulgam apoio ao governo de Erdogan

A Casa Branca divulgou uma nota sobre os acontecimentos na Turquia. De acordo com o comunicado, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, conversou por telefone com seu secretário de Estado, John Kerry, sobre o assunto. "O presidente e o secretário concordam que todos os partidos na Turquia devem apresentar apoio ao governo turco eleito democraticamente, mostrar moderação e evitar qualquer violência ou banho de sangue", diz a nota.


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://jeonline.com.br/.