04/05/2021 às 13h35min - Atualizada em 04/05/2021 às 13h35min

Pesquisa mostra que mais da metade das trabalhadoras domésticas ficou sem renda durante a pandemia

Estudo foi realizado em Heliópolis, maior favela de São Paulo

- Foto: Arquivo ABr
Assessoria de Imprensa

Mais da metade das trabalhadoras domésticas da maior favela de São Paulo, Heliópolis, ficou sem renda durante a pandemia. O ganho mensal diminuiu nesse período para quase todas elas - 95% das profissionais. É o que revela o estudo "Os impactos da pandemia na vida das diaristas e trabalhadoras do lar", realizado pelo coletivo jovem Observatório De Olho na Quebrada, iniciativa de UNAS em parceria com ActionAid, Open Society Foundation e Instituto Construção.

O estudo foi realizado de dezembro de 2020 a março de 2021 - período em que o Auxílio Emergencial, concedido a 68 milhões de brasileiros, foi suspenso. As entrevistadas contam que precisaram desse dinheiro para pagar aluguel, contas e para comprar comida.

A grande maioria dessas trabalhadoras (78%) não tem vínculo empregatício - elas atuam sob o regime de diárias. Elas são majoritariamente negras e pardas (71%). Quase todas elas são mães (97%), e a metade é mãe solo. Quase um terço dessas mulheres tem quatro filhos ou mais.

Como alcançar essas mulheres na pandemia

A pesquisa evidencia ainda mais a face sombria da pandemia sobre a classe das trabalhadoras domésticas. Não custa lembrar que a primeira vítima fatal da Covid-19 no Brasil, Rosana Urbano, trabalhava como diarista.

O estudo conduzido pelo De Olho na Quebrada tem como objetivo entender a fundo as características específicas da vida dessas mulheres. Para isso, contou com apoio da ActionAid na implementação de diretrizes feministas para pesquisas - como o olhar para a interseccionalidade, o questionamento das causas da desigualdade de gênero e escuta ativa a essas mulheres - em todo o processo.

A pesquisa se adequou à realidade das moradoras de Heliópolis, que sempre estão ocupadas com o trabalho (dentro e fora das próprias casas). Elas responderam a um questionário online e enviaram áudios pelo WhatsApp contando detalhes de suas rotinas, desde a hora em que acordam até o momento em que vão dormir.

"Precisamos pensar na vida dessas mulheres, na saúde mental delas. Na maioria dos áudios que recebemos pelo WhatsApp, dava para ouvir o som de crianças ao fundo. Elas não param nem por um segundo, não têm tempo para si próprias. Num momento tão delicado como o da pandemia, nós do observatório tivemos o privilégio de podermos escutá-las. Conseguimos dar um espaço para essas mulheres, e assim vamos conseguir que essa informação chegue a outras trabalhadoras domésticas, para que percebam que não estão sozinhas", pontua Karoline Aparecida, estudante de medicina e uma das jovens pesquisadoras do Observatório De Olho na Quebrada.

Para a Diretora de Programas da ActionAid, Ana Paula Brandão, o trabalho dos jovens de Heliópolis se destaca por aprofundar nas questões sócio-econômicas das mulheres que trabalham no ramo doméstico.

"A pesquisa é uma das ferramentas mais fortes para que as pessoas que vivem em situação de pobreza e exclusão, que são mulheres em maioria, tenham seus direitos garantidos. E essa abordagem interseccional, com olhar para os múltiplos fatores que impactam a realidade dessas mulheres, mostra que o processo por si só pode ser inovador e voltado ao empoderamento delas, usando uma abordagem transformadora de gênero desde a concepção de ideias de pesquisa até sua publicação e incidência. É muito gratificante ver isso em prática com os jovens de Unas".

Sobre o observatório

O observatório De Olho na Quebrada é um coletivo de jovens pesquisadoras e pesquisadores de Heliópolis que tem por objetivo mostrar as potencialidades da região, e não somente ausências e vulnerabilidades. O trabalho deles consiste em evidenciar a voz das moradoras e dos moradores.

"Esses jovens traçam um retrato mais próximo da nossa realidade, fazem pesquisa de dentro do território para o território. E eles serão lideranças futuras na nossa comunidade. Esse trabalho traz visibilidade para questões não vistas pelas estatísticas oficiais. Um exemplo disso é que o número total de habitantes apontado pelo censo não condiz com nossa realidade. Essa divergência prejudica a elaboração de políticas públicas adequadas às nossas necessidades", aponta Reginaldo José Gonçalves, coordenador do projeto De Olho na Quebrada e líder comunitário de UNAS/Heliópolis.


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