12/09/2019 às 19h29min - Atualizada em 12/09/2019 às 19h51min

It: Capítulo 2 entretém e assusta, mas não consegue repetir feito do filme de 2017

Longa é inferior ao primeiro filme, mas encerra com competência a saga

- Fotos: Reprodução / internet
Da Redação: Rafael Barbosa

It: Capítulo 2 estreou nos cinemas com uma tarefa ingrata. Após ver seu antecessor se tornar o filme de terror de maior bilheteria da história, a continuação chega a grande tela com um peso enorme sobre os ombros, com a obrigação de ser um filme melhor do que aquele que assistimos em 2017, e talvez este seja o seu maior problema.

No filme, voltamos à cidade de Derry, 27 anos após a luta entre o Clube dos Perdedores e o palhaço maligno Pennywise. Quando a criatura começa a fazer novas vítimas, Mike contata os amigos para que eles cumpram a promessa que fizeram e voltem à cidade para liquidarem o monstro de uma vez por todas. Mas ao voltarem para a cidade os membros do clube irão descobrir que crescer não os deixou menos suscetíveis aos horrores de um ser que esperou mais de duas décadas para ter sua vingança.

O capítulo 2 pode errar em alguns pontos, porém o filme mantém o acerto do primeiro filme na forma competente com que trata seus protagonistas e o vilão que eles devem enfrentar.

Após surpreender o público com uma atuação visceral e horripilante, Bill Skarsgard volta a interpretar Pennywise com desenvoltura e animosidade, encarnando um monstro com uma fome insaciável por suas vítimas, o que traz algumas características interessantes e perturbadoras para a interpretação do ator. A forma como ele olha para suas presas como pedaços de carnes suculentas, prontas para serem consumidas, babando e até mesmo brincando com a ideia de que está diante de uma bela refeição soam perturbadoras em diversos momentos e sempre que o ator está em cena ele captura a atenção do espectador.

Ressentido por ter sido derrotado no filme anterior, o palhaço assassino regressa à Derry com muito mais raiva, não negando seu desprezo e ódio por todos aqueles a quem persegue e especialmente para com os membros do Clube dos Perdedores. Determinado a atormentá-los, a entidade toma para si não apenas o papel de um monstro em busca de vítimas, assumindo também o papel de bullying que antes pertencia a outros personagens no filme anterior e, assim, insulta e menospreza os heróis em todas as oportunidades.

Uma iniciativa que parece ser motivada apenas pela pura maldade, porém que também faz parte de uma estratégia da criatura e que faz todo sentido dentro da lógica do filme.



As aparições de Pennywise são algumas das melhores cenas do filme, que sabe utilizar seu vilão embora também entenda suas limitações. Como já vimos o personagem em ação no longa anterior, muito do seu apelo visual perde efeito e assim o longa o usa de forma comedida e em pontos específicos.

Para ocupar seu lugar temos a aparição de outras criaturas, que também são representações do palhaço, e assim como no filme anterior, assume outras formas baseadas nos medos dos heróis. Mas infelizmente é neste momento que o longa encontra alguns de seus piores momentos devido ao uso abusivo de efeitos especiais.

O excesso de efeitos artificiais tira constantemente o espectador da cena por parecerem bobos e claramente falsos em diversos momentos, algo que soa ainda mais aparente quando vemos o quão bem o filme trata de horrores reais, como agressões provocadas por sentimentos como homofobia e machismo.

Momentos que são retratados também no livro de Stephen King e que são transportados para o longa com maestria pela forma brutal e impactante com que são mostrados através de cortes precisos nas cenas e efeitos de som inseridos nos momentos certos, como na cena em que vemos Beverly ser agredida, onde um soco desferido na heroína soa simplesmente aterrador devido ao corte da cena e ao som seco do golpe.

Momentos que resgatam muito da essência das obras de King ao tratar não apenas a maldade sobrenatural, mas também a humana como acontecimentos aterradores e que despertam um sentimento de revolta e impotência em quem acompanha a história.

Porém o longa também consegue resgatar outros elementos muito presentes na bibliografia do rei do terror: a ternura.  Assim como o livro, IT é um filme sobre amizade e a forma como nos unimos e criamos laços com outras pessoas ao longo da vida, cultivando sentimentos que estarão conosco mesmo quando estas mesmas pessoas nos deixarem.

O longa conta com bons atores, que encarnam a versão adulta dos perdedores com desenvoltura e, algumas vezes com um nível de espelhamento assustador, como no caso de Richie, Stan e Eddie, que se mostram as representações adultas perfeitas de seus homônimos infantis e acabam roubando a cena em diversos momentos.



Os outros atores também cumprem seus papéis com competência e felizmente, assim como no primeiro filme, seu elenco principal consegue captar muito bem a atenção do espectador que facilmente torce por eles. 

É verdade que eles não são tão carismáticos quanto os intérpretes mirins do longa de 2017, mas isso seria impossível, afinal crianças transmitem um nível de inocência que não pode ser replicado em adultos. Porém não há como negar que as versões adultas dos perdedores compensam essa "deficiência" com atuações que conseguem transmitir as frustrações e dilemas de seus personagens, que não conseguem deixar de lado muitos dos problemas que tinham na infância. Um conceito que traz à tona um questionamento interessante: apesar de amadurecermos, conseguimos ser pessoas diferentes do que éramos quando crianças?

Unidos por um passado em comum, os protagonistas deste capítulo 2 são pessoas que não conseguiram resolver pendências e dilemas iniciados na infância, arrastando estes pesadelos pessoais para suas vidas adultas, mas que encontram na companhia uns dos outros a força para enfrentar estas crises.

A ternura que encontrávamos na interação entre os heróis do primeiro filme se repete aqui e isto faz com que nos importemos com Bill, Beverly, Stanley, Richie, Bem, Mike e Eddie, amigos que se tocam com frequência, brincam, tiram sarro e não escondem o genuíno amor que sentem uns pelos outros. Um aspecto que consegue nos manter interessados em uma obra claramente inchada.

É previsível que o roteiro do filme e seu diretor precisavam de tempo para trabalhar um número tão grande de protagonistas, que deve passar por desafios pessoais a fim de encontrar seus amigos e, finalmente, enfrentar Pennywise. Entretanto é inevitável também que nestes momentos o filme perca muito de seu ritmo.

Faltou ao diretor Andy Muschietti o esmero que encontramos no primeiro capítulo de IT, onde optou por dar mais destaque a algumas crianças, deixando alguns personagens em segundo plano, mas em contrapartida criando uma obra mais interessante de ser assistida por seu ritmo competente, ao contrário de um filme com quase três horas de duração e que faz o espectador sentir cada minuto deste tempo.

It: Capítulo 2 se perde em seu próprio tamanho, investindo demais em efeitos digitais e cenas grandiosas que soam desinteressantes e, algumas vezes, quase bobas em comparação a momentos mais intimistas e que buscam retratar a amizade e o terror vivido por seus heróis.



Elementos que acabam soando negativamente em um filme de terror, embora eu não ache que It busque se encaixar totalmente neste gênero. Assim como o primeiro filme, o longa tem seus momentos de terror e horror, investindo em cenas chocantes, principalmente no seu primeiro terço, mas conforme os minutos passam, o filme ganha um tom mais aventureiro, arriscando mais nos momentos de humor e em cenas de ação épicas.

Uma abordagem que pode decepcionar os fãs do gênero horror, que talvez esperem um filme mais “pesado” devido ao seu elenco adulto. Se este é o seu caso, sugiro que vá ao cinema com a mente aberta e esperando um filme nos moldes do primeiro, com tons mistos de aventura, horror e comédia.

Apesar de ser claramente inferior ao primeiro It, este capítulo 2 não decepciona, resgatando boa parte da magia presente nas obras de Stephen King e trazendo um final competente para a história que arrebatou a todos em 2017.


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