28/10/2012 às 18h31min - Atualizada em 28/10/2012 às 18h31min

'Salve Jorge' estreia apostando na força da narrativa popular de Glória Perez

Primeiro capítulo da novela reforça traços característicos da autora, presentes em recentes obras

Sai a direção 'experimental', câmeras na mão e planos fechadíssimos. Entram longas sequências contemplativas, a direção de arte figurativa, os planos americanos. Sai a narrativa enxuta, o elenco reduzido, a força de uma trama central predominante. Entra o mar de personagens, as histórias paralelas de relevância considerável, o fio da meada repleto de nós que se interligam. Sai o Divino. Entra o Complexo do Alemão. Sai a mocinha vingativa. Entra a mocinha barraqueira. Sai 'Avenida Brasil'. Entra 'Salve Jorge'. 

O primeiro capítulo da nova novela das nove da Globo apostou absolutamente todas as suas fichas na força de sua autora: a escrita popular de Glória Perez, capaz de produzir fenômenos de popularidade do tamanho de uma novela como 'O Clone', deu o tom da estreia do folhetim. Morena, protagonista vivida pela excelente Nanda Costa, resume o espírito da favela em que mora, mesclando sangue fervente nas veias com determinação em busca de um futuro melhor para si e para os seus. O discurso popular mais que perfeito para jogar a mocinha de 'Salve Jorge' nos braços do público.

Outro nicho em que a novela se desenrolará, o universo militar abriga Théo, interpretado por um contido Rodrigo Lombardi, o destemido cavaleiro que se apaixonará pela moça da comunidade. Mas, talvez, seja Murilo Rosa, com seu invejoso Élcio, o responsável por roubar a cena sob a farda, pelo que pudemos perceber à primeira vista.

E, por falar em 'roubo de cena', fiquemos com todos os olhos voltados para Giovanna Antonelli (Heloisa) e Alexandre Nero (Stenio), à frente das melhores cenas do capítulo inicial, dosando humor com dramaticidade na medida, prometendo momentos antológicos no decorrer da trama. Diferentemente de Mariana Rios, no papel de Drika,e Claudia Raia, a grã-vilã Líviaesta, em aparição relâmpago na estreia- que, por motivos distintos (a primeira, por visível inexperiência; a segunda, por estar um tom acima), dão a entender que precisarão tomar cuidado para não avançarem o sinal da canastrice.

E a Turquia? Bem, o distante país será o palco para as cenas repletas de expressões desconhecidas pelo telespectador, seguidas por sua tradução instantânea, função que caberá, basicamente, a Mustafa (Antonio Calloni) executar. No entanto, entre imagens poéticas e 'takes' deslumbrantes, a direção extremamente contemplativa de Marcos Schechtman nos remete diretamente à ousadia de 'Avenida Brasil', o que, inevitavelmente, causa certo desconforto.

Mas, até neste ponto, referente à direção mais 'quadrada' de Marcos, 'Salve Jorge' é condizente com a estratégia de reafirmar a assinatura clara de Glória Perez, assim, logo de cara. Com um bônus: o dinamismo da edição das cenas situadas no Complexo do Alemão (inclusive as de ocupação da comunidade) surpreenderam, assim como o mote, de prévio conhecimento, do romance entre o morro e o asfalto (mesmo que fardado), em tempos de UPP. Uma nuance moderna da autora, que, para cumprir o requisito de fuga completa do didatismo de outrora, terá o desafio de mostrar o tráfico internacional de pessoas sem cair na armadilha do denuncismo. Mas esta é uma missão para os próximos capítulos. Literalmente.


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