20/06/2018 às 13h48min - Atualizada em 20/06/2018 às 13h48min

Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa: conheça os sintomas e tratamento das doenças inflamatórias intestinais

Novos tratamentos promovem uma melhor qualidade de vida aos pacientes

No Brasil, as Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) atingem 13,25 em cada 100 mil habitantes, sendo 53,83% de doença de Crohn e 46,16% de retocolite ulcerativa, segundo dados apresentados no “I Congresso Brasileiro de Doenças Inflamatórias no Brasil (GEDIIB)”, realizado em abril, na cidade de Campinas (SP). No mundo, essa condição atinge mais de 5 milhões de pessoas, segundo dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP).

As DII podem ser definidas como um grupo de doenças crônicas, que causam um processo inflamatório no trato gastrointestinal. Representadas pela doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, as DII podem ocorrer em qualquer idade, mas são mais comuns em adolescentes e adultos jovens, entre 15 e 40 anos, tendo um segundo pico de incidência por volta dos 55 e 60 anos.

Segundo a gastroenterologista e coordenadora clínica do Ambulatório de Doenças Inflamatórias Intestinais do Hospital Felício Rocho, Carolina de Paula Guimarães Baía, a doença de Crohn é mais comum em mulheres e tem caráter transmural, podendo ocorrer em qualquer parte do trato digestivo, da boca ao ânus.  “Já a retocolite ulcerativa, parece acometer igualmente homens e mulheres e ocorre apenas no reto e cólon (intestino grosso), com um processo inflamatório restrito a mucosa e de ocorrência contínua”, explica.

Carolina Baia destaca que de um modo geral, as doenças inflamatórias intestinais têm maior incidência em países desenvolvidos, como os do norte da Europa, os Estados Unidos e o Canadá.

De acordo com a médica, nos últimos anos houve um aumento do número de casos em outras regiões europeias, no Japão e em algumas regiões da América do Sul, como a Argentina, Chile, Uruguai e nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. “Acredita-se que essa preferência por países desenvolvidos esteja relacionada ao elevado padrão de higiene. Existe uma teoria que defende que a falta de contato com agentes infecciosos e parasitários na infância, faria com que o sistema imunológico dessas pessoas se tornem incapazes de produzir respostas imunológicas adequadas, o que contribuiria para o desenvolvimento da doença”, esclarece.

Carolina de Paula Guimarães Baía ressalta que os fatores ocasionadores das DII e a maneira que os mesmos se manifestam, ainda são pouco compreendidos. Segundo ela, alguns autores defendem que a flora intestinal pode estar envolvida no processo de desenvolvimento da doença. “Outras causas observadas, é que pacientes com este tipo de enfermidade, geralmente, têm um sistema imunológico alterado e um intestino mais permeável à entrada de diversos microrganismos. Fatores ambientais parecem estar envolvidos e vários já foram implicados, como a dieta, o uso de contraceptivos orais, vacinas e infecções, mas o único que tem o seu envolvimento comprovado é o tabagismo. O fumo parece predispor à doença de Crohn e piorar o seu curso”, comenta.

As doenças inflamatórias intestinais se caracterizam por períodos sintomáticos e assintomáticos. Dentre seus principais sintomas estão a dor abdominal, diarreia, emagrecimento, palidez, febre, perda de apetite e fraqueza. Os pacientes também podem apresentar manifestações extra-intestinais da doença como dor e inflamação das articulações (artrite e artralgia), aftas na boca, lesões de pele como eritema nodoso e pioderma gangrenoso, alterações oculares e colangite esclerosante primária.

Na doença de Crohn a sintomatologia é variável e depende do local acometido, com isso, se a mesma ocorrer no estômago e duodeno, por exemplo, o paciente pode apresentar apenas dor abdominal, náuseas e vômitos. “Caso a doença atinja o intestino delgado e/ou grosso, os principais sintomas são a diarreia e a dor abdominal. A inflamação também pode causar a formação de fístulas (canal patológico de comunicação entre dois órgãos), a obstrução do intestino e quadros semelhantes à uma apendicite aguda”, aponta.

No caso da retocolite ulcerativa, os sintomas podem se manifestar por meio de diarreia com presença de sangue e dor abdominal, sem a formação de fístulas ou obstrução intestinal.

Por não apresentar sintomas específicos e não dispor de exames direcionados para o reconhecimento da doença, o diagnóstico das DII é um grande desafio. Carolina Baia explica que o diagnóstico da patologia é realizado associando-se a sintomatologia dos pacientes às alterações em exames laboratoriais de imagem e em análises endoscópicas e histológicas. “É preciso considerar todas as particularidades dos sintomas e alterações em exames dos pacientes, pois várias outras doenças podem apresentar as mesmas características”, alerta.

Até o momento, as DII não têm cura, mas dispõem de tratamentos que promovem uma melhor qualidade de vida aos pacientes “O tratamento convencional envolve a indicação de aminossalicilatos, corticóides e imunossupressores. Caso o paciente não obtenha resposta satisfatória a todos estes métodos, é indicado o uso de medicamentos biológicos. O tratamento cirúrgico também pode ser necessário, mas geralmente só é realizado nos casos de complicações como fístulas, abscessos, estenoses, perfurações, megacólon ou naqueles pacientes refratários a todo arsenal terapêutico”, conclui.

 


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