
Fábio Carille é, sem dúvidas, um dos principais técnicos da sua geração. Com quase três anos de carreira como treinador, foi campeão brasileiro em 2017 e é atual tricampeão paulista. Apesar do rápido sucesso, o treinador do Corinthians é muito questionado pelo modo como seu time joga. As equipes treinadas por Carille têm como características os excelentes sistemas defensivos e os mortais contra-ataques mas é muito criticado por abdicar totalmente do ataque e em algumas partidas finalizar pouco à gol. Esse ano, antes da parada para a Copa América o Corinthians estava em 9º lugar no Campeonato Brasileiro e, para complementar, estava jogando muito mal. O alvinegro tinha uma imensa dificuldade de criar jogadas e chutava pouco à gol. Quando questionado à respeito do mal futebol, Carille prometia que, na parada para a Copa América, trabalharia a equipe e o nível técnico melhoraria. E melhorou.
Na tabela do Campeonato Brasileiro pós-Copa América, o Corinthians é o segundo colocado, atrás apenas do Flamengo e vem jogando de uma maneira que há muito tempo não jogava. A título de comparação, no Campeonato Brasileiro de 2018, o Corinthians chutava, em média, 9,7 vezes ao gol e no campeonato atual, na partida contra o Botafogo, o time de Fabio Carille finalizou 19 vezes, contra o Atlético Mineiro, finalizou 13 vezes. É nítida a mudança de postura da equipe corintiana, passando de uma equipe extremamente pragmática para um time equilibrado e que sabe a hora de atacar e a hora de se defender. Não é coincidência que essa mudança de postura ocorra justamente na inserção de dois jogadores jovens e que há muito tempo eram pedidos, pela torcida, no time titular: Mateus Vital e Pedrinho.
Vital veio do Vasco no início de 2018 mas foi pouco aproveitado no ano passado e no início desse ano. É importante ressaltar que nas chances que lhe foram dadas ele não apresentou um bom futebol e por isso demorou para ganhar uma sequência, mas quando ganhou, mudou o meio de campo do Corinthians. Quando jogavam jogadores como Jadson, Sornoza ou Ramiro, que são jogadores mais pesados, a transição era extremamente comprometida pela falta de velocidade em atacar, depois de voltar para ajudar na marcação. Com Vital esse problema se resolveu, o meia é extremamente dinâmico e é muito veloz, tanto para armar o jogo quanto para recompor.
Pedrinho é o último grande jogador revelado pelo Corinthians. Sempre foi muito questionado pela sua forma física e por raramente aguentar jogar os 90 minutos. Entretanto, sua parte técnica nunca foi questionada. É um jogador extremamente veloz, tem uma habilidade para driblar invejável e um excelente chute de média e longa distância. Pedrinho é o camisa 10 da seleção olímpica e é presença quase que garantida, em 2020, nas Olimpíadas de Tóquio. Sua boa fase mudou a equipe do Corinthians, ele é uma válvula de escape nos contra-ataques e além de armar muitas jogadas, ainda finaliza à gol, acumulando 4 tentos até agora no Brasileirão.
Umas das virtudes de um grande treinador é reconhecer seus erros e ter a humildade de abrir mão de algumas convicções para melhorar o desempenho da sua equipe. A mim me parece que foi exatamente isso que ocorreu com Fabio Carille. É evidente que em alguns jogos o ímpeto defensivo ainda foi gigantesco, como contra o Internacional, no Beira-Rio, mas é importante ressaltar a mudança de postura do Corinthians nos jogos em casa e essa mudança de postura sempre parte do treinador. Com a implantação gradual de um novo estilo de jogo, a supervisão de um grande treinador, como é o Carille, e a introdução de jovens jogadores como Vital, Pedrinho e até mesmo o lateral Carlos Augusto, o Corinthians tem tudo para colher frutos, até mesmo a curto prazo: é o favorito na Copa Sul-Americana e a bola costuma premiar quem a trata com carinho.