11/09/2023 às 14h59min - Atualizada em 11/09/2023 às 14h59min

A quem interessa mitigar os impactos da pandemia no aprendizado?

Simone Teodoro

Simone Teodoro

Formada em Pedagogia, pós-graduada em Alfabetização e Letramento, Gestão de Educação Municipal e Gestão Escolar.

Foto: Freepik
Precisamos mudar o cenário da educação. Frequentemente, mães de estudantes me procuram pedindo dicas para ajudar o(a) filho(a) a melhorar no rendimento escolar. Os relatos são recorrentes: “após dois anos sem aula presencial, ele (a) está com bastante dificuldades, as notas estão baixas, não sei o que fazer. Tem alguma dica, Professora Simone, para que eu possa ajudar em casa ou me indica um professor de reforço, por favor!? - São falas de familiares preocupados com o futuro de seu filho(a). Falas de quem ama e deseja o desenvolvimento dos seus!

É bem provável que você já tenha escutado algum relato similar e, até mesmo, presenciado professores demonstrando preocupação com o grupo de alunos após o retorno presencial. Sim! Esta é uma preocupação para todos, afinal trata-se da formação dos nossos futuros cidadãos! No texto de hoje, vamos reforçar em cada linha que precisamos mudar o cenário da educação no Brasil.

Cabe recapitular como adentramos nestes anseios. Vamos lá! Em 2020 tivemos a suspensão das aulas presenciais devido à COVID 19. De imediato, o primeiro impacto foi remodelar o processo de ensino, transmutando o presencial para o remoto: com envio de atividades para fazer em casa, uso pedagógico do WhatsApp, celulares sendo compartilhados entre uso pessoal e escolar, abertura de grupos escolares em redes sociais,  o desvelamento da exclusão digital com alunos residentes em áreas sem conexão, professores abrindo (online) as suas casas para  interações mediadoras, a descoberta de crianças inseridas na cultura digital ensinando professores à usarem aplicativos.

Experienciamos grandes reinvenções e expressivo desenvolvimento da competência comunicativa e cultura digital - na prática! Diga-se, de passagem, tais competências anteriormente andavam no limbo da valorização teórica!

Dando sequência à narrativa: prosseguimos em 2021 na incerteza pandêmica e em suspensão de aulas presenciais por autorização do MEC (Ministério da Educação) e com a deliberação do CNE (Conselho Nacional de Educação) estabelecendo sobre o uso de todos os recursos possíveis dentro do ensino remoto, a fim de zelarmos pela aprendizagem em preconização da legislação educacional.

Acompanhamos os professores se reinventando com maestria, demonstrando bravamente (o que nunca duvidamos) que sempre foram os guerreiros da educação! Atuaram, dignamente,  diante da força da desburocratização de processos antes consolidados pelo sistema escolar; encontraram diversas formas para interagirem com os seus alunos em meio à impossibilidade da interação social em contexto escolar.  Cabe, do mesmo modo, frisar que foi um tempo cheio de emoções contraditórias, tempo novo e incerto, de inseguranças, medos, união, busca de esperança pela vida e muito esforço docente para “segurar as pontas” da educação.

Assim, neste ritmo em busca da preservação da vida, chegamos em  2022 com o cenário de  escolas, as quais antes estavam vazias e, agora tinham seus espaços tomados pelos movimentos estudantis, além de muitas surpresas  assustadoras advindas de todo o percurso anterior narrado. Enfim, chegou o momento do retorno gradativo e presencial.

Não demoradamente, iniciaram os apontamentos de especialistas quanto às fragilidades demandadas pela pandemia na educação, destacaram-se dados estatísticos sinalizando altos índices de evasão, analfabetismo, defasagens e projeções da desigualdade social. Revelou-se o  descontentamento com problemas antes existentes, mas que, neste momento, assolou com ferocidade familiares, trabalhadores e, portanto, envolvendo diversos atores educacionais para pensar empaticamente numa educação que enxergasse o “ser humano”  e suas necessidades.

No nível de órgãos fiscalizadores da educação, tais como: o Tribunal de Contas do Estado, fez se frequente o questionamento aos Dirigentes: quais são as ações que estão sendo realizadas para mitigar o impacto da pandemia na sua rede ou sistema de ensino? Questiona-se: quais têm sido os projetos, a fim de que haja recomposição das aprendizagens, garantindo, nesta toada, as aprendizagens essenciais? Como está sendo a busca por alunos que ficaram desestimulados à frequência ou que tiveram que optar por ajudar na renda familiar? Qual foi o índice de adolescentes grávidas e como está o apoio ao retorno escolar? Além disso, como tem sido a reversão do impacto pelo aumento da desigualdade social? Há mapeamento das competências e habilidades por faixa etária? Há diagnóstico do processo de alfabetização? As Secretarias de Educação estão articuladas com outras Secretarias de forma a tratar dos problemas intersetorialmente, como questões de saúde mental e evasão? Como a desigualdade social tem refletido no universo escolar? Como os dirigentes têm lidado com os casos de depressão, automutilação, ansiedade (de professores e estudantes)? São questões que constatam: a escola é um lócus de reprodução da sociedade - um universo micro em reflexo ao macro social.  Desta concepção advém tamanha importância que devemos dar para a escola pública.  Sendo assim, chegamos no ponto chave:  a quem importa o debate incitado neste texto?

Afirmamos que, se antes a educação pública era destacada como prioridade nas agendas governamentais, agora o destaque deve ser fomentado e ampliado, no sentido de dar atenção redobrada ao futuro de cada um dos educadores e seus educandos, considerando a privação cultural e educacional vivenciada nos últimos dois anos e o apoio necessário aos agentes do ensino com formações permanentes e investimentos em recursos pedagógicos em todas as escolas.

Apontamos três grandes questões que foram acentuadas na pandemia: ampliação da desigualdade social, alto índice de evasão escolar e percentuais de baixo rendimento. Com estas questões, vemo-nos diante de um novo contexto: precisamos de uns novos “óculos” para a educação.

Na pandemia passamos pela era da transformação digital e pela incitação da necessidade de compreendermos a educação das emoções. Utilizamos os recursos tecnológicos como instrumento de aproximação e as emoções como instrumento estratégico de aprendizagem. O novo olhar para a educação é o da construção da cultura da aprendizagem.

Para mitigarmos o impacto da pandemia na educação, requer que tenhamos planejamento de programas, propostas e projetos que deem conta de reconfigurar os currículos municipais, considerando as aprendizagens essenciais conforme a etapa escolar, requer investimento (estrutural e humano) em recursos tecnológicos, haja vista a era digital em que estamos submersos por aplicativos adversos, os quais inteligentemente nos demonstram como criar a cultura da aprendizagem pelos estímulos contextualizados.

A escola precisa compreender o perfil do estudante e personalizar seu processo de aprendizado, criando a cultura da aprendizagem por meio da valorização de suas emoções.  Por sua vez, a Política Pública Educacional deve olhar para as redes de ensino e se personalizar à realidade gritante: estamos num novo tempo. Diante deste impacto novas ações são necessárias!

O panorama da educação pós pandemia nos demonstra rupturas que exigirá dos Dirigentes a administração de novas competências, sendo: adaptabilidade, aprender a desaprender, empatia, criatividade, pensamento crítico, simplicidade, visão sistêmica e digital, execução de ações e humildade intelectual.

Podemos dizer que, tais competências direcionarão propostas para atender não somente as escolas, mas as demandas da sociedade, de uma educação para a vida! Precisamos colocar os estudantes no centro do processo do sistema de ensino sem superficialidade, gerando valor moral, compreendendo que a aprendizagem se dá ao longo da vida e, deste modo, promovendo rupturas para que a era do conhecimento seja o futuro zelado a partir do agora!

Porque debater sobre os impactos da pandemia na educação? Ora, é sumário dar voz para a democratização do conhecimento, defender que o aprendizado é um direito, compreender que não podemos fechar os olhos para a privação histórica - cultural e educacional vivenciada nos dois últimos anos. Para a UNICEF, a agenda governamental precisa se debruçar sobre os indicadores e implicar ações de política pública de modo sistematizado para amenizar o quadro apresentado pelas pesquisas, inclusive o quadro de extrema pobreza.

Assim, no bojo da defesa de mudança de cenário da educação, falamos da vida e da valorização da ciência e construção dos conhecimentos, dos saberes e tratamentos das informações a favor do ser humano! Ao falarmos de mitigação dos impactos nas aprendizagens, falamos da vida dos educandos e seu percurso existencial na direção da construção de sonhos. Tratamos de intuirmos nossa inteligência para o desenvolvimento pessoal, financeiro, profissional e acadêmico de cada uma das crianças e adolescentes, em seus subjetivos direitos de aprendizagens.  Falamos de todos nós, pois quando um sujeito apreende algo novo, o mundo ganha excelência em virtudes.

Mas, a quem interessa o assunto? Interessa a quem se assusta com este e outros dados:  "em 2021, a evasão escolar de crianças e adolescentes AUMENTOU 171%" (pesquisa: Movimento "Todos pela Educação"). Interessa à sociedade que compreende o valor da educação para a construção de um país mais justo, estruturado, progressivo, igualitário, democrático e de direitos. Precisamos virar o jogo deste cenário! Portanto, os Dirigentes em suas Políticas Educacionais devem implementar estratégias assertivas para a mitigação dos efeitos da pandemia na educação. Pois, a educação não pode continuar sendo artigo de luxo!  E a tal da CIDADANIA PLENA tem de sair das linhas legislativas e conquistar vida nos lares de nossos brasileirinhos e brasileirinhas, nossas crianças e adolescentes. Conclusivamente, que possamos trabalhar com total seriedade para mudar o cenário da educação nas nossas cidades e por todo o Brasil.
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