08/09/2023 às 11h50min - Atualizada em 08/09/2023 às 11h50min
Por uma educação baseada em valores: Educação para a paz - de quem é a responsabilidade?
“Só quero paz” - é o que todos dizem, mas quem a implementa?
Foto: Freepik Assim como não nascemos dominando a língua materna ou dominando técnicas matemáticas, não nascemos com habilidades socioemocionais e princípios éticos: empatia, solidariedade, cooperação, pensamento crítico, entre outros valores para a construção de um mundo melhor e humanizado.
O conceito de educação baseada em valores, trata de diretrizes para uma sociedade mais democrática, de forma a desenvolver a tolerância e o respeito entre os sujeitos. Diretrizes para fomentar relações pacíficas entre as pessoas, além do respeito do ser humano para com o meio ambiente, desenvolvendo relações recíprocas e sustentáveis.
Questionamo-nos: a Educação com base em valores ou a educação para a paz, compete somente à escola? Educar com base em valores é responsabilidade de toda a sociedade. Empresas, poder público, organizações não governamentais, lideranças comunitárias políticas e sociais, corporações, famílias e universidades; todos estão atuando no complexo campo educacional por intermédio de suas políticas relacionais. Assim, todos estamos, em certa medida, educando valores, ou não, através dos nossos exemplos.
Constitucionalmente, o dever de educar é do estado e da família. Todavia, na prática social, neste meio inter - relacional e midiático, há influências positivas e negativas no processo de formação dos nossos filhos, com mediações constantes de diferentes atores sociais. Pensando nisso, frisamos ser sumária a presença da família na vida das crianças e adolescentes, da mesma forma, continuamos defendendo que o estado oferte cada vez mais uma educação de qualidade, visando fortalecer os processos de ensino e aprendizagens, a fim de que os responsáveis (em tese) diretos, cumpram bem o exercício de suas representações educativas, enquanto família e poder estatal.
Na atual conjuntura de violências adversas, uma educação baseada em valores é extremamente necessária para ajudar as famílias na definição de objetivos de vida dos filhos. Precisamos mediar o desenvolvimento dos jovens para uma vida saudável: com inteligência emocional, financeira, pessoal e profissional. Uma educação para a realização humana com respeito ao outro, sem perder o respeito de si. Uma educação baseada em valores é uma educação para o fomento da paz, com princípios de relações mais humanas, recíprocas e sustentáveis.
Buscando referências educacionais, descobrimos que na Europa a educação baseada em valores é tratada dentro da disciplina "educação para a cidadania", sendo um conteúdo transversal integrado a outros programas educacionais. Vale salientar a atenção da UNESCO nos “Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis” - ODS , avaliando o nível da implementação de políticas educacionais, programas e planos de formação de professores, no que tange à educação para a cidadania.
Me perguntam como a educação baseada em valores é vista dentro da Base Nacional Comum Curricular - BNCC. Sempre respondo que a BNCC nos trouxe uma excelente visão referente à valores humanos expressos nas competências socioemocionais. As competências socioemocionais estão presentes nas 10 competências gerais da BNCC.
Recordemos que a educação socioemocional foi fundamentada com base na indicação do CASEL, organização internacional sem fins lucrativos que pesquisa e estuda o desenvolvimento socioemocional. No fundamento das competências socioemocionais da BNCC, temos as 5 seguintes: - autoconhecimento: capacidade de entender as próprias emoções e avaliar seus pontos fortes e fracos;
- autocontrole: habilidade de se automotivar, controlar os impulsos, definir metas, ter planejamento e organização;
- consciência social: envolvimento do estudante com o próximo, levando em conta empatia, respeito e aceitação da diversidade;
- habilidades de relacionamento: manifestação de ações de escuta ativa, comunicação clara e cooperação com os colegas;
- tomada de decisão responsável: capacidade de realizar escolhas pessoais, levando em conta padrões éticos e morais
Metodologicamente, para atingir a excelência na educação para valores, é necessária uma parceria entre escola, família e sociedade. Não somente escola, não somente família, mas ambos juntamente com todo o núcleo social. Em conjunto, efetivamente e afetivamente, poderão sair da consagrada educação tradicional, pautada na estigmatização moralista de indivíduos, para incidir-se na ideia de uma educação colaborativa. A educação com base em valores desenvolve sujeitos éticos, com visão coletiva, pensamento crítico, habilidades sociais, visão global e cooperação.
Neste ponto, já concordamos, a educação socioemocional, a educação com base em valores e a educação para a paz são preceitos fundamentais no momento atual, os quais requerem valores humanos, resoluções de conflitos, capacidade e poder de diálogo, no sentido de uma sociedade superadora da perversidade, desinformação, fake news, violências e ações desumanas com ataques de ódio com quem quer que seja.
Há uma árdua tarefa em ser educador neste século, o qual requer defender o conhecimento em meio a embates e combates tão desumanos. Portanto, a responsabilidade jamais poderá ser somente da escola ou somente da família. Necessitamos de ações intersetoriais com programas de saúde mental e cuidado socioemocional para, então, implementarmos valores e paz no contexto educativo.
Estamos preparados para essa educação colaborativa e de responsabilidade social? Não sei! Tenho minhas dúvidas! As escolas estão sozinhas e as famílias também! Ora se cobra de um, ora se cobra de outro e os dois âmbitos se entreolham sem saber o que devem fazer! Enquanto isso, a sociedade e seus representantes políticos querem a colheita dos frutos da educação, sem um projeto efetivo, integrado e participativo no seio escolar e familiar.
Ainda questionamos: este compromisso é da escola ou da família? Este compromisso é de todo o núcleo social! Sabemos que a paz se cria, a paz se constrói, humanamente, com parceria entre: escola, família e sociedade. Uma parceria que advirá do reconhecimento de que "o pilar da paz é a educação" - como sublinhou, certa vez, o Papa Francisco.
Nesta direção, compreendendo a exigência da responsabilidade multi setorial na implementação da paz e da ética das relações do "homem com o homem", do "homem com o mundo" e, por sua vez, do "mundo com os homens"; requeremos que tenhamos uma política educacional com olhar para a formação do ser humano e da humanidade. Esta é a urgência deste século: educar com base em valores para que a educação seja o pilar da paz! Concluímos, a responsabilidade é social - de todos e para todos!