22/05/2015 às 14h04min - Atualizada em 22/05/2015 às 14h04min

São-roquense fala com exclusividade ao JE sobre sua experiência no Nepal

Da Redação: Rafael Barbosa - Foto: Alan Vianni
Da Redação: Rafael Barbosa - Foto: Alan Vianni

Se você acompanha o Jornal da Economia ou outros meios televisivos, com certeza já ouviu falar de Camile Guarino Porto. A são-roquense estava no Nepal no dia 25 de abril, quando o país foi atingido por um terremoto de magnitude 7,8, o mais forte tremor em 80 anos e que deixou um grande rastro de destruição, além de mais de 80 mil mortos e outros milhares de feridos. De volta ao Brasil, ela veio à redação do JE para contar um pouco de sua experiência neste país, que agora tenta se reconstruir de uma de suas maiores tragédias.

Camile foi para o Nepal para auxiliar sua mãe, Violeta Mauro Araujo Guarino, que há seis anos comanda a ONG Compasion Home, dedicada a cuidar de crianças órfãs e mulheres que são excluídas pela sociedade, algo relativamente comum em um país arraigado as suas tradições e que traz uma cultura machista que exclui mulheres das mais diversas maneiras. Entretanto, por mais que o país tenha uma taxa de pobreza alta e diversos outros problemas, como a poluição, a professora de inglês conta que traz excelentes recordações do país. “É um povo muito amável, que adora os turistas. Fiz amizades maravilhosas por lá”, comenta.

A cultura diferente nunca assustou a jovem, que relembra com carinho sua rotina entre estudar inglês na escola, e voltar para casa para ajudar na organização da mãe, que abandonou uma vida empresarial, para viajar o mundo ajudando os mais necessitados. Entretanto, ao lembrar daquele fatídico dia 25, a expressão de Camile muda completamente.

“Estava no segundo andar da casa, conversando com uma amiga pelo telefone, quando o tremor começou. Ele foi aumentando e ouvi minha mãe gritar para não descer porque era um terremoto. Tudo começou a balançar e eu ouvia as pessoas gritando e em determinado ponto parecia que a casa era feito de papel de tanto que as parede se mexiam. Foi apavorante”, relembra.

Por se localizarem em um bairro militar sua casa e a ONG se mantiveram em pé, mas ao sair do bairro e ouvir as notícias dos feridos e mortos, é que Camile começou a tomar  consiençia do tamanho da devastação que o tremor tinha feito. Naquela mesma tarde, outro tremor atingiu o pais, em escala menor (6,8) mas o suficiente para aumentar a devastação crescente que destruiu grande parte do Nepal.

Com o segundo tremor o país parou para cuidar dos seus feridos e velar seus mortos, enquanto lutava para manter a ordem. Proibidos de voltar para casa, Camile e os membros da ONG tiveram que improvisar uma moradia. “Montamos barracas improvisadas do lado de fora com cortinas de plástico e ficamos morando lá por vários dias”, comenta. A vida de quem sobreviveu ao tremor, foi dura e com a calamidade a alimentação e a água tinham que ser controladas e o efeito psicológico foi devastador. “Perdi 10 kg em 20 dias”, relembra a jovem.

Previsões eram enviadas ao país, mas a participação do governo brasileiro foi inexistente, pelo menos com relação à situação da família de Camile no Nepal. “Por minha mãe ter uma ONG o Itamaraty tem um registro dela, mas nunca recebemos qualquer ligação deles ou da embaixada brasileira para saber como estávamos” relembra Camilie, que lembra que o país era o único a não ter um representante oficial na tragédia.

Entretanto, a provação estava longe de terminar e quase uma semana depois, mais um tremor (7,4) atingiu novamente o país, e segundo a jovem as perspectivas futuras não são animadoras. Camile explica que as informações locais relatam que uma instabilidade das placas tectônicas fez com que o Monte Everest sofresse uma baixa de dois metros, enquanto o Nepal teria subido esta mesma medida, se deslocando para o norte. Esta instabilidade tectônica ainda continua e pode provocar um novo tremor ainda mais forte que o ocorrido no dia 25 de abril.

Quando perguntamos o que ela sente sobre sua família, a jovem é só preocupação. “Quando estava no avião minha mãe disse que havia acabado de acontecer outro terremoto. Não agüentei e comecei a chorar”, conta a jovem ao afirmar que seu único consolo é que sua mãe esta seguindo o seu sonho.

O Nepal agora tenta se recuperar desta crise e, de acordo com Camile, o governo planeja reabrir todas as escolas em dois anos, embora o país esteja se preparando para enfrentar um surto de doenças por conta da exposição da população aos corpos em decomposição. Na verdade, o governo nepalês tem aconselhado a população a utilizar máscaras ao transitar pelas ruas, para evitar contato com organismos nocivos.

De volta ao Brasil, a jovem tenta recomeçar sua vida no país e se recuperar psicologicamente. “Quando eu me lembro do que aconteceu, faço força para não chorar”, relembra a jovem, embora já tenha afirmado que um dia pretende voltar ao país, se possível com uma equipe para ajudar a ONG de sua mãe.

Os interessados em ajudar a ONG Compasion Home a continuar com o seu trabalho, podem realizar doações de qualquer valor através da conta no Banco Bradesco (ag.160 ct.87514-7) ou do Banco do Brasil (ag. 3583-1 ct. 22266-6).

Acompanhe em breve o vídeo com a entrevista completa de Camile Guarino através do portal do JE (www.jeonline.com.br). 


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